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sábado, 29 de abril de 2017

Nossa Literatura - O ACENDEDOR DE LAMPIÕES - Jorge de Lima



O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
                        Jorge de Lima

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
Acendedor de lampião

E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: —
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!

COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I. p.208

Jorge de Lima



A POESIA PRECISA E PRECIOSA DE JORGE DE LIMA

Personalidade artística complexa e diversificada, Jorge de Lima nasceu na cidade de União, Alagoas, em 23 de abril de 1893 e morreu no Rio de Janeiro,em 15 de novembro de 1953. Sua carreira de artista está marcada por uma busca incessante de meios de expressão. Foi poeta, romancista, ensaísta, pintor, escultor. E como poeta, seu princípio unificador, situou-se nas cumeeiras da literatura brasileira. Seu roteiro poético inclui transformações constantes. Fez poesia metrificada, poesia livre, livro de fotomontagem e poema em prosa. Passou pela temática folclórica, religiosa. E publicou desde os XIV Alexandrinos (1914), passando pelo antológico Essa Negra Fulô (1928), até os originalíssimos versos de Anunciação e Encontro de Mira-Celi (1950), Livro de Sonetos (1949) e Invenção de Orfeu (1952), poema épico em 10 cantos.
A um tempo regional e cósmico,clássico e modernista, profano e místico, Jorge de Lima foi, talvez, o poeta mais versátil do Brasil e suas metamorfoses chegaram até a irritar alguns críticos. Mas é necessário reconhecer: em todas as fases Jorge de Lima nunca deixou de ser poeta --e dos melhores. E o seu itinerário é coincidente com as principais etapas percorridas pela poesia brasileira no século passado. Outro aspecto curioso foi relatado por José Fernando Carneiro, médico e amigo de Jorge. Segundo Carneiro "os 77 sonetos que formam o Livro de Sonetos e mais 25 que não foram publicados, ao todo mais de 100, foram escritos em estado hipnogógico, no espaço de 10 dias apenas, levantando-se Jorge de Lima, às vezes de madrugada, e compondo de uma vez três, quatro, cinco sonetos. Limitar-me-ei a referir que foram escritos em momento de grande angústia, quando seu autor começou a sonhar acordado, e a ver, diante de si, entre outras coisas, o galo da igreja do Rosário, a draga da praia de Pajuçara bem defronte de sua casa, e a pretinha Celidônia, que morreu afogada no rio Mundaú".

Por Rubens Jardim


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