O LIVRO

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sexta-feira, 3 de julho de 2015

Nossa Literatura - Poema AS PALAVRAS RESSUSCITARÃO - Jorge de Lima



AS PALAVRAS RESSUSCITARÃO - Jorge de Lima

As palavras envelheceram dentro dos homens

separadas em ilhas,

as palavras se mumificaram na boca dos legisladores;

as palavras apodreceram nas promessas dos tiranos;

as palavras nada significam nos discursos dos homens públicos.


E o Verbo de Deus é uno mesmo com a profanação dos homens de Babel,

mesmo com a profanação dos homens de hoje.

E, por acaso, a palavra imortal há de adoecer?

E, por caso, as grandes palavras semitas podem desaparecer?

E, por acaso, o poeta não foi designado para vivificar a palavra de novo?


Para colhê-la de cima das águas e oferecê-la outra vez aos homens do continente?

E, não foi ele apontado para restituir-lhe a sua essência,

e reconstituir seu conteúdo mágico?

Acaso o poeta não prevê a comunhão das línguas,

quando o homem reconquistar os atributos perdidos com a Queda,

e quando se desfizerem as nações instaladas ao depois de Babel?


Quando toda a confusão for desfeita,

o poeta não falará, do ponto em que se encontrar,

a todos os homens da terra, numa só língua — a linguagem do Espírito?

Se por acaso viveis mergulhados no momento e no limite,

não me compreendereis, irmão!


COUTINHO, Afrânio (org.). Jorge de Lima. Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1958, vol. I. p.467-468.

Jorge de Lima

Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi um político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro. Inicialmente autor de versos alexandrinos, posteriormente transformou-se em um modernista.
Era filho de um comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.

Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.


Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos.

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