O LIVRO

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Nossa literatura - SER PAULISTA - Martins Fontes


José Martins Fontes

José Martins Fontes, poeta brasileiro, nascido na cidade paulista de Santos, às  17 h 30 min. em 23 de junho de 1884. Como médico, notabilizou-se como conferencista e foi tisiologista da Santa Casa de Misericórdia de Santos e destacado humanista. A partir de 1924 tornou-se correspondente da Academia de Ciência de Lisboa. Morreu em Santos em 25 de junho de 1937 e está sepultado no Cemitério de Paquetá, desta cidade.

Escreveu: Verão(1901); Rosicler; Vulcão; Marabá; Escarlate; Prometeu; O céu Verde; Arlequinada; Partida para Cítera; Boêmia Galante; Laranjeira em Flor; O Colar Partido; A Fada Bom-bom; A Flauta Encantada; Sombra; Silêncio e Sonho; No Templo e Na Oficina; Sevilha; Granada; Torres de Fanasia; Paulistânia;  Guanabara;Nos Rosais das Estrelas; Fantástica; Sol das Almas; I Fioretti; Canções do meu Vergel; e outros.

                                                  SER PAULISTA


Ser paulista! é ser grande no passado

E inda maior nas glórias do presente!

E' ser a imagem do Brasil sonhado,

E, ao mesmo tempo, do Brasil nascente.





Ser paulista! é morrer sacrificado

Por nossa terra e pela nossa gente!

É ter dó das fraquezas do soldado

Tendo horror à filáucia do tenente.





Ser paulista! é rezar pelo Evangelho

De Rui Barbosa — o sacrossanto velho

Civilista imortal de nossa fé.





Ser paulista em brasão e em pergaminho

É ser traído e pelejar sozinho,

É ser vencido, mas cair de pé!

Nossa literatura - POEMA: O SABIÁ DA MATA, França Pereira

                   


                  O SABIÁ DA MATA


        Alada flauta de cristal das matas,

        E que celebra a glória da manhã,

        Quem te ouvindo as cadências e volatas,

        Não cuida a flauta ouvir do grande Pã?



        Queixas da selva umbrosa e das cascatas,

        Saudades da caatinga e da rechã,

        Dissolves em noturnos e sonatas,

        Na basílica voz de Malibrã!



        E essa voz que, de sombra a luz se veste,

        Mais doce do que um verso de Virgílio,

        Que põe vozes do céu na avena agreste:



        Nem uma vez possui no mundo inteiro;

        É a voz da Pátria a soluçar, no exílio,

        Saudades do Nordeste Brasileiro!

O CANTO DO SABIÁ DA MATA 


Nossa pátria - RESERVA SERRA BONITA: ESPERANÇA NA MATA ATLÂNTICA

Serra Bonita

Casal condecorado com o título de Explorers pela National Geographic Society dedica a vida à conservação da Mata Atlântica.

“Acho que você deveria ler este artigo, vai te interessar”, disse minha esposa. Estávamos presos no trânsito na volta do feriado havia quase uma hora, com o carro parado na estrada. Sugeri a ela que lesse o artigo em voz alta, já que o rádio do carro não estava funcionando. Com poucos minutos ficou claro que o texto falava de uma pessoa especial, que havia dedicado uma vida à ciência e à natureza.

“Seja bem-vindo! Eu sou o Vitor”. Foi assim que conheci um dos maiores pesquisadores de lepidóptera do mundo. Vitor também é proprietário de uma grande reserva particular destinada à preservação da Mata Atlântica: a RPPN Serra Bonita, mais conhecida como Reserva Serra Bonita. Haviam passado menos de 30 dias entre meu contato por e-mail e nosso encontro na rodoviária de Camacã, no sul da Bahia. Subi na caminhonete 4x4 e rapidamente tomamos uma estrada de 16 km, sendo 6 km calçados em pedra, que nos levou para quase 1000 metros de altitude, em uma montanha coberta por uma densa floresta.

O sul da Bahia, outrora famoso pela economia cacaueira, viveu uma grande crise. Com o aparecimento do fungo Crinipellis perniciosa, causador da praga denominada “vassoura de bruxa”, houve uma queda de quase 50% na produtividade do cacau em toda a região, passando de 320 mil toneladas para menos de 190 mil toneladas, no fim dos anos 1980. Foi o declínio da forte cultura cacaueira, famosa por seus ricos coronéis e grandes latifúndios. Fazendas que rendiam $500 000 dólares ao ano passaram a dar prejuízo e foram abandonadas. A cidade de Camacã, uma das mais ricas do estado, viu sua população diminuir pela metade, pois toda sua estrutura baseava-se na plantação do cacau.


“Nós começamos a comprar terra aqui no fim dos anos 90. Com a chegada da praga, o valor da terra caiu muito, o que possibilitou a compra dos primeiros hectares. Começamos buscando as terras altas, mais preservadas e desvalorizadas, já que o cacau prefere terras mais baixas, no pé do morro”. Foi dessa maneira que o sonho do casal, Vitor Becker e Clemira Souza, começou a tomar forma. De 1997 a 2001, utilizando as economias de toda sua vida, o casal adquiriu 43 pequenas propriedades, totalizando 1020 hectares, unificou os títulos e obteve o reconhecimento da propriedade como RPPN, criando assim a Reserva Serra Bonita. “Gostaríamos de aumentar essa área e proteger toda a Serra Bonita, cerca de 7500 hectares”, diz o engenheiro agrônomo.

A cultura cacaueira foi a grande responsável pela colonização da região. Se não fosse por ela, a cidade de Camacã não existiria e as fazendas também não. Muito provavelmente seria um lugar inóspito, localizado entre a cidade de Ilhéus e Porto Seguro, ou até mesmo um grande pasto. No começo do século 20, as grandes cheias do rio Pardo e o declínio da produção de diamantes fizeram com que algumas famílias da cidade da Canavieiras buscassem novas terras. Subindo o rio até o encontro com um afluente, rio Panelão, as famílias foram plantando sementes de cacau até chegar na confluência com o ribeirão Panelinha, lugar de terras férteis, onde plantaram sua primeira roça. A cidade só começou a tomar forma algum tempo depois, quando em 1920 um fazendeiro cedeu parte de sua fazenda para a formação do primeiro núcleo urbano.

A  A região da RPPN Serra Bonita é muito úmida. Em algumas épocas do ano chove todos os dias. No inverno, é comum as partes altas da reserva ficarem envoltas em neblina.Foto: Fernando Lessa

O cacau (Theobroma cacao) é uma planta de origem amazônica. De fácil cultura, se adaptou bem a região, com seu clima quente e úmido. Sua produção é simples: fazer um buraco com o facão, colocar uma semente e uma pequena estaca marcando o local. Da sua região de origem, herdou o gosto por locais sombreados. Se não fosse o cacau, a restauração da mata seria impossível. “O cacau foi o vilão e virou o mocinho”, atesta um biólogo que estava na reserva para coletar espécimes para seu projeto de doutorado. Sua frase é real e rapidamente pude constatar. São poucos os lugares no Brasil onde é possível ver tantas árvores de grande porte. Aqui o eterno jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) ainda é avistado em todo seu esplendor.

A cultura do cacau na Bahia é feita em um sistema de cultivo tradicional, onde as árvores crescem no meio da mata. Diferentemente de outros sistemas, esse permite a manutenção de grande parte da vegetação, assim como a preservação da camada de matéria orgânica que nutre e protege o solo. A roça é plantada entre as árvores e muitas vezes só se nota os cacaueiros pelos seus grandes frutos amarelos. “Na Serra Bonita nós preferimos não retirar as antigas plantas. Permitimos que os antigos proprietários colham os frutos e deixamos o mato crescer. A floresta se regenera rapidamente, diferentemente do que ocorre com outras culturas”, diz Vitor Becker. “Essa é uma das razões de termos comprado terras aqui. Ainda existem grandes árvores e várias manchas de floresta primária”.

Atualmente restam no Brasil aproximadamente 8% da cobertura vegetal original da Mata Atlântica. Uma vez submetida ao impacto, a cobertura vegetal nunca mais retorna ao seu estado natural. Removidas as grandes árvores, o sol atinge o solo com mais intensidade, a luz propicia o desenvolvimento de outras plantas, que não teriam chance nas sombras, mudando assim as características da vegetação. O substrato úmido seca, matando animais, fungos e bactérias responsáveis por degradar a matéria orgânica e interrompendo o ciclo de nutrientes. Com cuidado, dinheiro e trabalho pode-se restabelecer uma vegetação saudável, mas nunca igual.

“Quando mudamos para cá, alguns animais era muito raros”, diz Becker. “Os caititus eram raros. Das suçuaranas, restavam apenas lendas. As antas e o macaco muriqui haviam desaparecido há 50 anos. Assim como macacos-prego, papagaios, o bugio. Com o tempo a mata se restabeleceu. Hoje existe um grande bando de caititus, estimado em 40 indivíduos. As suçuaranas estão de volta e é comum encontrar pegadas até mesmo próximas ao Centro de Pesquisas. O próximo passo é iniciar a reintrodução de espécies extintas. “Passamos por quatro unidades de conservação da Mata Atlântica e nenhuma é tão rica quanto essa”, atesta um grupo de biólogos da Universidade federal da Bahia. Todos concordam.



A curiosa raposa-caranguejeira (Cerdocyon thous) aparece todos os dias próxima ao centro de visitantes. Antes rara, agora se multiplica pela mata. - Foto: Fernando Lessa

Em meu primeiro dia na Reserva Serra Bonita, saio para caminhar por uma curta trilha. A ideia é conhecer a mata de altitude, já quase extinta no meu estado de origem. Após 200 metros de trilha cortando uma floresta secundária bem estruturada, a vegetação muda totalmente. Troncos com mais de 2 metros de diâmetro cobertos de musgo pipocam por todos os lados. Uma grande floresta de samambaias brilha sobre os poucos raios de sol que penetram a floresta. Em outras regiões elas quase foram dizimadas, pois seu tronco era utilizado para confecção de xaxins. A trilha é íngreme e a quantidade de matéria orgânica faz com que os pés escorreguem o tempo todo. São tantos os cantos de pássaros e seus filhotes, que é difícil identificar as espécies. No chão, grilos e sapos disputam espaço com cogumelos e muito musgo. Devido a altitude, existem poucas formigas. O cheiro de matéria orgânica domina o ar úmido.

“Serrapilheira” é o nome que se dá a mistura de folhas, galhos e frutos que recobrem o solo. É ali que ocorre a ciclagem de nutrientes, além de abrigar animais, fungos e bactérias que fazem a decomposição de todo o material que cai no chão. Ela protege o solo da lixiviação, abriga as sementes até que germinem e proporciona isolamento térmico. Seu estudo permite analisar a quantidade de carbono que a floresta é capaz de sequestrar e o grau de conservação da mata.

As agroflorestas, sistema de cultivo onde se semeia a cultura em harmonia com a floresta, são novas; mas não na Bahia. Empregado com cacau, desde o século 18, o sistema tem até nome: cabruca. Por causa da rusticidade da planta, que não necessita adubos nem defensivos, as sementes são colocadas na terra e germinam em 6 dias. A produção começa após 3 anos e se torna economicamente viável após 6 anos. Diferentemente de outras culturas, o cacau não necessita de manutenção. O agricultor pode semear grandes áreas com pouco trabalho. Como a planta tem origem amazônica, a sombra das grandes árvores é bem vinda; o terreno já nasce pronto. Dessa maneira foi possível preservar as características da mata original, mantendo grandes árvores, e a cobertura vegetal. Estudos estimam que na cabruca, a quantidade de biomassa sobre o solo é quase igual da floresta primária, assim como a sua capacidade de fixar carbono. Visto da Reserva Serra Bonita, o entorno da cidade de Camacã é todo tomado por florestas, e ainda gera esperança.


O sistema de cabruca permite a integração de floresta com a agricultura. O cacau se destaca pelos grandes frutos amarelos - Foto: Fernando Lessa

Vitor e Clemira conheceram o lugar através das andanças de Vitor, que frequentava a região para coletar animais para seus estudos. “Aqui existem muitos bichos interessantes. Já coletei aproximadamente 5 000 espécies de mariposa na região”. Além de uma diversidade incrível de artrópodes, a Reserva Sera Bonita é a única reserva de mata atlântica habitada por uma família residente de harpias (Harpia harpyija). São animais raros e que eram considerados extintos na região. “Até hoje foram 3 avistamentos, sendo que eu vi duas vezes.”, diz Vitor.

As florestas de altitude, tipo de vegetação característica da região da Serra Bonita, são raras no Brasil. Quando em seu estado primário - existente na Serra - tem grandes árvores entremeadas com jardins de samambaias. Pela constante neblina, a umidade é muito alta, possibilitando lindos carpetes de musgos. Raras em outros lugares, as helicônias prosperam, assim como grandes bromélias. Recentemente uma nova espécie de bromélia foi descrita aqui, comenta o pesquisador.



Beija-flor


Até meados de 2015, a Reserva Serra Bonita recebeu mais de 500 pesquisadores, cujo trabalho gerou 32 publicações acadêmicas e a descrição de 21 espécies de fauna e flora novas para a ciência. A pesquisa científica na Reserva Serra Bonita é conduzida por universidades brasileiras e estrangeiras, e gerida por Vitor Becker, como atual Diretor de Pesquisas Científicas da organização sem fins lucrativos Instituto Uiraçu, também fundada pelo casal e atualmente presidida por Clemira Souza.

A Reserva Serra Bonita também abriga uma das maiores coleção de mariposas do Brasil. Fruto de uma carreira de dedicação e paixão de Becker, estão catalogados e organizados quase 300 000 espécimes, constituindo mais de 30 000 espécies. O acervo fica disponível para pesquisadores e em março de 2015 o casal realizou na Reserva Serra Bonita um curso internacional na área de lepidópteros, difundindo os conhecimentos na área.

Agraciados com o título de Explorers,concedido pela Fundação Buffet em parceria com a National Geographic Society, o casal tem dedicado sua vida à conservação da Mata Atlântica. Hoje a Reserva Serra Bonita conta com infraestrutura para receber visitantes e pesquisadores, e o Instituto Uiraçu atua juntamente com as prefeituras locais em programas de conscientização da população.

Através de doações obtidas pelo Instituto Uiraçu, a área protegida foi ampliada para cerca de 2500 hectares. “Nós pretendemos estender a área protegida aos 7500 hectares da Serra Bonita, e tornar a Reserva Serra Bonita autossustentável. Essa foi a forma de dar nossa contribuição à sociedade”, diz o casal entre um gole e outro de chimarrão. “Eu não acredito em argumentos utilitaristas de preservação. Nós preservamos simplesmente porque acreditamos que todos os seres vivos têm o direito de viver”, afirma Vitor Becker.

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE   |   Por: Fernando Lessa



A Mata Atlântica ainda é a fonte de água doce de 80% da população brasileira, e embora conheçamos pouco sua biodiversidade, sabemos que é um dos biomas mais ricos da Terra, com mais de 3.500 espécies animais e mais de 20.000 espécies vegetais conhecidas para a ciência. Destas, mais de 500 espécies animais, e mais de 8.000 espécies vegetais, são endêmicas (só existem na Mata Atlântica).

Conheça o site http://www.serrabonita.org/