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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Nossa Literatura - POEMA - AINDA UMA VEZ ADEUS - Gonçalves Dias







Gonçalves Dias, escritor da época Romântica, poeta da primeira geração. Foi o primeiro grande poeta tipicamente brasileiro. Destacou-se na poesia lírico-amorosa, indianista e nacionalista.

Os trechos do poema que você vai ler pertence às mais belas páginas líricas escritas pelo autor. Foi inspirado na adolescente Ana Amélia, moça por qual se apaixonou e, apesar de ser correspondido, os pais dela não admitiram tal união.

AINDA UMA VEZ, ADEUS


Enfim te vejo! - enfim posso, 
Curvado a teus pés, dizer-te, 
Que não cessei de querer-te, 
Pesar de quanto sofri. 
Muito penei! Cruas ânsias, 
Dos teus olhos afastado, 
Houveram-me acabrunhado 
A não lembrar-me de ti!

II 
Dum mundo a outro impelido, 
Derramei os meus lamentos 
Nas surdas asas dos ventos, 
Do mar na crespa cerviz! 
Baldão, ludíbrio da sorte 
Em terra estranha, entre gente, 
Que alheios males não sente, 
Nem se condói do infeliz! 

III 
Louco, aflito, a saciar-me 
D'agravar minha ferida, 
Tomou-me tédio da vida, 
Passos da morte senti; 
Mas quase no passo extremo, 
No último arcar da esperança, 
Tu me vieste à lembrança: 
Quis viver mais e vivi!

IV 
Vivi; pois Deus me guardava 
Para este lugar e hora! 
Depois de tanto, senhora, 
Ver-te e falar-te outra vez; 
Rever-me em teu rosto amigo, 
Pensar em quanto hei perdido, 
E este pranto dolorido 
Deixar correr a teus pés. (...)

XVII 
Adeus qu'eu parto, senhora; 
Negou-me o fado inimigo 
Passar a vida contigo, 
Ter sepultura entre os meus; 
Negou-me nesta hora extrema, 
Por extrema despedida, 
Ouvir-te a voz comovida 
Soluçar um breve Adeus! 

XVIII 
Lerás porém algum dia 
Meus versos d'alma arrancados, 
D'amargo pranto banhados, 
Com sangue escritos; - e então 
Confio que te comovas, 
Que a minha dor te apiade 
Que chores, não de saudade, 
Nem de amor, - de compaixão.




Gonçalves Dias
O poeta Antônio Gonçalves Dias, que se orgulhava de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra), nasceu no Maranhão em 10 de agosto de 1823. Em 1840 foi para Portugal cursar Direito na Faculdade de Coimbra. Ali, entrou em contato com os principais escritores da primeira fase do Romantismo português.

Em 1843, inspirado na saudade da pátria, escreveu "Canção do Exílio". No ano seguinte graduou-se bacharel em Direito. De volta ao Brasil, iniciou uma fase de intensa produção literária. Em 1849, junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, fundou a revista "Guanabara". Com o objetivo de mudar de vida, embarca novamente para a Europa, onde passa uma temporada. Com a saúde abalada, ele resolve, anos mias tarde, voltar ao Brasil. Na viagem, porém, morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne, em 1864, próximo ao Maranhão.

Se por um lado deve-se a Gonçalves de Magalhães a introdução do Romantismo no Brasil, por outro, deve-se a Gonçalves Dias a sua consolidação. Isso porque o poeta trabalhou com maestria todas as características iniciais da primeira fase do Romantismo brasileiro. De sua obra, geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, destacam-se "I-juca Pirama", "Os Tibiramas" e "Canção do Tamoio".


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