O LIVRO

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Nossa literatura - A FELICIDADE AOS OLHOS DO POETA VICENTE DE CARVALHO





Vicente Augusto de Carvalho, o "Poeta do Mar",nascido na cidade litorânea de Santos, São Paulo em 5 de abril de 1866, falecido na mesma cidade em 22 de abril de 1924, foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas da revista "A Cigarra". Ocupou a Cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleito em 1º de maio de 1909, na sucessão de Artur Azevedo.

OBRAS:

Ardentias (1885);
Relicário (1888);
Rosa, rosa de amor (1902);
Poemas e canções (1908);
Versos da mocidade (1909);
Verso e prosa (1909);
Páginas soltas (1911);
A voz dos sinos (1916);
Luizinha, contos (1924);
Discursos e obras políticas e jurídicas.

Vicente de Carvalho, no soneto ‘Velho Tema”, um dos mais conhecidos de sua obra,  com uma sensibilidade muito profunda, penetra com agudeza no mundo interior do homem e daí procura exprimir os anseios incontidos da alma humana. Mas tudo isso sem decorrer a devaneios e com apuro de forma, de acordo com os moldes do Parnasianismo, esses sentimentos subiam à tona com objetividade e realismo, “às claras”, como ele mesmo preconizava no “Velho Tema”.



VELHO TEMA I 

Só a leve esperança em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada,
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim, mas nós não a alcançamos,
Por que está sempre apenas onde a pomos,
E nunca a pomos onde nós estamos.

VELHO TEMA II

Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.


Quero que meu amor se te apresente
- Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.


Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece: eu te amo, e o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.


Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do teu beijo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Nossa Literatura - ETERNA - Mário Pederneiras


 


                ETERNA (Saudade)
   
     Intérmino que fosse o Caminho da Vida
     E eterno o caminhar do nosso passo incerto,
     Fosse na estrada larga ou fosse no deserto,
     Sem lar, sem pão, sem paz, sem sol e sem guarida;


     Intérmina que fosse a estrada percorrida.
     Sob o Céu todo azul ou de nuvens coberto
     E, o repouso fatal nunca estivesse perto
     E a distancia final nunca fosse vencida;


     E vencendo ao caminho as urzes e os escolhos,
     As lutas, o pavor, o cansaço do dia,
     A fraqueza do passo, a tristeza dos olhos;


     Meu pobre coração nessa eterna ansiedade,
     Nesse eterno sofrer, eterno arrastaria
     Esta triste, esta longa, esta eterna Saudade.



Biografia - Mário Veloso Paranhos Pederneiras (Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1868 - Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1915). Filho de Manuel Veloso Paranhos Pederneiras e de Isabel França e Leite, e irmão de Oscar Pederneiras, Mário Pederneiras foi um carioca que com suas poesias encantou a muitos. Em suas obras se torna claro seu jeito único de escrever e a forma como mostrava ao mundo o que pensava. Estreia na imprensa por volta de 1878, quando colabora como o jornal estudantil O Imparcial, do Grêmio Literário Artur de Oliveira, no Rio de Janeiro RJ. Colabora ainda com a Gazeta de Notícias, Sans Dessous, O Tagarela e Novidades. Cursa o primeiro e o segundo ano da Faculdade de Direito, em 1888 e 1889, em São Paulo SP, mas não chega a conclui-la. Em 1900 publica Agonia, seu primeiro livro de poesia. Na década de 1910, trabalha na elaboração em prosa da revista teatral inédita Dona Bernarda e da comédia inédita O Dr. Mendes Camacho. Conquista o terceiro lugar no concurso para Príncipe dos Poetas Brasileiros, em 1913, no Rio de Janeiro. Sua obra poética inclui os livros Rondas Noturnas (1901), Histórias do meu Casal, 1904/1906 (1906) e Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida (1912), de estética simbolista. Segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919 - 1992), "um poeta houve entre os nossos simbolistas que se tornou, com o tempo, o cantor das alegrias da vida doméstica e também das tristezas que a assaltam: esse poeta do lar, da saudade da filha morta, da gratidão à esposa, das coisas humildes como as árvores da rua, a mangueira do quintal, o passeio público, etc., foi Mário Pederneiras".

Principais poemas
⦁ 1900 - ⦁ Agonias
⦁ 1901 - ⦁ Rondas Noturnas
⦁ 1906 - ⦁ Histórias do meu Casal
⦁ 1912 - ⦁ Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida



Mais poemas:

Mar

Oh! Mar! Meu velho Mar! que aos pés desta Cidade
As torturas do Amor inconstante padeces...
Sob a paz deste Céu isolado pareces
O caminho que leva à mansão da Saudade.

Lutas contra este Amor, a quem manso ofereces,
Num suplício servil, toda a tua humildade...
Ruges a tua dor... mas desfeito em bondade
Sobre a esteira da praia, em soluço, embranqueces.

Tens um'Alma infeliz que estranha mágoa encerra,
E se às vezes raivoso os teus ódios revelas,
E de tanto sofrer a repulsa da Terra.

Para ver como és bom, basta o enlevo em que rondas
O solene vagar ondulado das velas,
Na cadência orquestral do balanço das ondas.

Dor suprema


Que esta Suprema Dor que minh'Alma envelhece,
Que tanto me acabrunha e tanto desalenta,
Que repele a Ilusão, como o Sonho afugenta,
Que não cede ao Clamor, como não cede à Prece;

Que esta Suprema Dor que me prende e acorrenta
A mágoa de esperar o que nunca aparece,
Que se entranha na Vida e se alarga e que cresce
E de encontro à Alegria, em lágrimas, rebenta;

Seja o meu calmo abrigo, o meu sereno asilo,
Onde minh'Alma vá, toda branca e alquebrada,
Pedir o Pouso e a Paz para um viver tranquilo.

E que exsurja da Treva em que agora ando imerso
Para eterna viver aqui — marmorizada —
Na tristeza imortal da Lágrima e do Verso.

Trecho final

Meia-tinta de cor dos ocasos do Outono,
Sonho que uma ilusão sobre a vida nos tece
E perfume sutil de uma folha de trevo,
São, decerto, a feição deste livro que escrevo
Neste ambiente de silêncio e sono
Nesta indolência de quem convalesce.

Meu livro é um jardim na doçura do Outono
E que a sombra amacia
De carinho e de afago
Da luz serena do final do dia;
E um velho jardim dolente e triste
Com um velho local de silêncio e de sono
Já sem a luz de verão que o doire e tisne,
Mas onde ainda existe
O orgulho de um Cisne
E a água triste de um Lago.


Fontes de referências: Enciclopédia Itaú Cultural; Wikipédia; Manual de Literatura Brasileira (Editora Rideel)