"A história é vital para a formação da cidadania porque nos mostra que para compreender o que está acontecendo no presente é preciso entender quais foram os caminhos percorridos pela sociedade brasileira; senão parece que tudo começou quando tomamos consciência das nossas vidas."
Bóris Fausto - historiador, escritor e cientista político brasileiro.
A
abolição do comércio transatlântico de escravos no século XIX
não erradicou esta prática mundial. Pelo contrário, assumiu outras
formas, que persistem ainda hoje: escravatura, servidão por dívida
e trabalho forçado ou obrigatório, tráfico de mulheres e crianças,
escravatura doméstica e prostituição forçada, incluindo de
crianças, escravatura sexual, casamentos forçados e venda de
esposas, trabalho infantil e servidão infantil, entre outros.
Esta
realidade obriga a comunidade internacional a manter-se vigilante e a
intensificar os seus esforços para erradicar as formas
contemporâneas de escravatura. A escravatura moderna é um crime e
as pessoas que o cometem, toleram ou facilitam devem ser levados
perante a justiça. As vítimas e os sobreviventes têm direito a
recurso e a reparação.
A
preocupação da comunidade internacional com a situação das
pessoas que vivem em condições de escravatura deu origem à criação
de vários instrumentos jurídicos importantes, o mais recente dos
quais é o Protocolo para Prevenir, Reprimir e Punir o Tráfico de
Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, que entrou em vigor em
2003 como um complemento da Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional.
Jurisdições
de todo o mundo abriram o caminho para novos avanços nos processos
judiciais de reparação. O Tribunal Internacional de Justiça
contribuiu para o reconhecimento da escravatura como crime contra a
humanidade e o direito a não ser submetido à escravatura é
considerado tão fundamental que todas as nações têm legitimidade
para levas a Tribunal todos os Estados transgressores.
O
Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia formulou uma
acusação de escravatura como crime contra a humanidade por atos de
violação e escravatura. E o Tribunal de Justiça da Comunidade
Economica dos Estados Oeste Africano (CEDEAO) declarou recentemente
que a escravatura é um crime contra a humanidade.
Ban Ki-moon - Secretário Geral da ONU
Neste
Dia Internacional, exorto todos os Estados a ratificarem e aplicarem
os instrumentos jurídicos e a cooperarem plenamente com o Relator
Especial da ONU sobre formas contemporâneas de escravatura. Faço
também um apelo a todos os Estados membros da ONU, para que
contribuam generosamente para o Fundo Voluntário das Nações Unidas
sobre Formas Contemporâneas de Escravatura, que tem ajudado milhares
de vítimas a recuperar a vida e a dignidade.
fonte: Mensagem do Secretário Geral Ban Ki-moon - Dia Internacional da Abolição da Escravatura - 2 de Dezembro de 2010
Com imagens do filme Amistad, realizado por Steven Spielberg. Escute Tragédia no mar (ou O navio negreiro) de Castro Alves, na voz de Paulo Autran.
O poeta Castro Alves escreveu O navio negreiro aos 22 anos, em 1869. A lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos, fora promulgada quase vinte anos antes. Cada parte do poema tem métrica própria, de maneira que o ritmo de cada estrofe retrata a situação apresentada nela.
A
ESCRAVIDÃO Sobre
a história do Brasil Quero
fazer um relato A
quem muito merece E
está no anonimato Que
gerou muita riqueza E
só recebeu desacato. Estou
falando dos Negros Que
vieram lá da África Pra
trabalhar nos engenhos Da
elite aristocrática A
ganância portuguesa Usava
sempre essa prática. Os
senhores de engenho Conhecidos
por patrão Fortalecem
esse insulto Dessa
tal escravidão Vitimando
todos nós Na
intensa exploração. Eram
comprados em lotes Nos
mercados de Olinda Depois
de negociados Ficavam
numa berlinda Além
de trabalhar muito Maltratados
eram ainda. Era
tão dura a jornada Mesmo
antes do sol romper Triste
de quem reclamava Pros
castigos receber Pra
não sofrer mais ainda Tinha
só que obedecer. Castigos
de todo tipo Recebiam
dos seus donos De
martelada nos dentes Sofrimentos
e danos Era
uma vida difícil Um
completo abandono. Diante
do sofrimento As
fugas já começaram Surgiu
o grande Zumbi E
logo se organizaram Sob
a sua liderança As
batalhas enfrentaram. Os
escravos fugitivos Formaram
comunidades No
quilombo dos palmares Sonhavam
com a liberdade Direito
que eles não tinham Naquela
sociedade. Geraram
muita riqueza Com
a colonização Mesmo
com a independência Pro
negro não mudou não Tudo
continuou na mesma Preservando
a escravidão. Depois
de muita batalha E
imposição estrangeira É
que finalmente acaba A
escravidão brasileira E
no cenário mundial Foi
assim a derradeira. Foi
no dia 13 de Maio Do
século XIX Que
a Princesa Isabel A
abolição promove Assinando
a Lei Áurea A
escravidão absolve. Mas
até hoje se ver O
negro discriminado Sofre
pra arrumar vaga De
trabalho no mercado Herança
que foi deixada Por
nossos antepassados. Não
tenha você também Esse
tal de preconceito Não
cometa esse crime Nem
tenha esse defeito Pois
somos todos iguais Temos
o mesmo direito. A
todos os brasileiros Que
formam essa nação Somos
brancos, negros, índios Nessa
miscigenação Vivamos
a diferença Da
grande aculturação. Se
Deus não faz distinção Nós
não devemos fazer Somos
obra da criação O
negro eu e você Vivamos
em união Para
em paz se viver. Dia
20 de Novembro É
festa na pátria inteira Uma
data festejada Pela
nação brasileira Dia
da consciência negra Povo
de alma guerreira. Juarês
Alencar Pereira.
DRE
- Colinas
Saiba
mais sobre o cordelista Juarês Alencar Pereira
em
seu blog http://juaresdocordel.blogspot.com.br/
Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez p’ra não o escutar! “Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o Sol vem; Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem! O Sol faz lá tudo em fogo, Faz em brasa toda a areia; Ninguém sabe como é belo Ver de tarde a papa-ceia! Aquelas terras tão grandes, Tão compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Dão vontade de pensar... Lá todos vivem felizes, Todos dançam no terreiro; A gente lá não se vende Como aqui, só por dinheiro.” O escravo calou a fala, Porque na úmida sala O fogo estava a apagar; E a escrava acabou seu canto, P’ra não acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar! O escravo então foi deitar-se, Pois tinha de levantar-se Bem antes do Sol nascer, E se tardasse, coitado, Teria de ser surrado, Pois bastava escravo ser. E a cativa desgraçada Deita seu filho, calada, E põe-se triste a beija-lo, Talvez temendo que o dono Não viesse, em meio do sono, De seus braços arrancá-lo
Castro Alves
Recife, 1863
Uma análise sobre este poema consulte http://conversadeportugues.com.br/2013/10/cancao-do-africano/
Igreja
de São Francisco de Assis (iniciada em 1766) em Ouro Preto, MG. Uma
das sete maravilhas de obras de origem portuguesa no mundo. Uma
obra prima de Aleijadinho.
Aleijadinho (Antônio
Francisco da Costa Lisboa)
29/08/1730,
Vila Rica (atual Ouro Preto), MG 18/11/1814, Mariana (MG) –
escultor e arquiteto brasileiro
provável rosto de Aleijadinho
"Bíblia
de pedra sabão, banhada no ouro das Minas." Assim o
poeta Oswald de Andradedefiniu
os Passos da Paixão e os 12 Profetas, as obras mais conhecidas do
Aleijadinho, na cidade de Congonhas do Campo em Minas Gerais. De
fato, o escultor conseguiu traduzir para a pedra a espiritualidade
das Escrituras. Antônio
Francisco da Costa Lisboa era filho de Manoel Francisco Lisboa e de
uma escrava que se chamava Isabel (embora nenhum documento o
comprove), e sobrinho de Antônio Francisco Pombal, afamado
entalhador de Vila Rica. A data oficial de seu nascimento é 29 de
agosto de 1730, mas também não há certeza quanto a isso. De
educação escolar primária, iniciou seu trabalho como escultor e
entalhador ainda criança, seguindo os passos do pai e trabalhando na
oficina do tio. Seu aprimoramento profissional veio de seus contatos
com o abridor de cunhos e desenhista João Gomes Batista e o escultor
e entalhador José Coelho de Noronha, portugueses com oficinas em
Vila Rica e responsáveis por muitas obras em igrejas da
região. Mesmo
que tenha sido um dos maiores artistas do Brasil, restam apenas
fragmentos biográficos da vida do Aleijadinho, a maioria deles
envolta em lendas. Sua primeira biografia "Traços Biográficos
Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa", escrita apenas
44 dias depois de sua morte, por Rodrigo Bretãs, é repleta de
exageros, mostrando um artista que seria "dado aos vinhos, às
mulheres e aos folguedos".
Profeta Daniel (pedra sabão), Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas-MG)
Aos
40 anos de idade, Antônio Francisco Lisboa foi atacado por uma
doença que o deixou gravemente deformado. Existem apenas hipóteses
sobre a terrível enfermidade. Em 1929, o médico Renê Laclette
optou por "lepra nervosa" como diagnóstico "menos
improvável", visto que no quadro clínico do escultor se
encontravam também sintomas específicos do mal de Hansen. Outra
hipótese citada com freqüência é a da zamparina (doença advinda
de um surto gripal que irrompeu no Rio em 1780, responsável por
alterações no sistema nervoso). As demais especulações, citadas
em mais de 30 estudos, incluem escorbuto, encefalite e sífilis. O
fato é que, aos poucos, o Aleijadinho foi perdendo o vigor físico,
o que não o impossibilitou de trabalhar. Conta-se que ao perder os
dedos dos pés ele passou a andar de joelhos, protegendo-os com
dispositivos de couro, ou a se fazer carregar. E ao perder os dedos
das mãos, passou a esculpir com o cinzel e o martelo amarrados aos
punhos. Em fins de 1777, o escultor já perdera os dedos dos pés,
"do que resultou não poder andar senão de joelhos", e os
dedos das mãos se atrofiaram de tal forma que o artista teria
decidido cortá-los, servindo-se do formão com que trabalhava.
Também perdeu quase todos os dentes, a boca entortou-se, o queixo e
o lábio inferior abateram-se e o olhar adquiriu uma expressão
sinistra que o deixou com um aspecto medonho.
Carregamento da Cruz (escultura em madeira), Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas-MG)
O
Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de
madrugada e só voltava para casa com a noite alta. "Ia sempre a
cavalo, embuçado em ampla capa, chapéu desabado, fugindo a
encontros e saudações", escreveu o poeta Manuel
Bandeira.
No próprio local da obra, ficava coberto por uma espécie de tenda.
Diz a lenda que, depois de ser chamado de "homem feio" por
José Romão, ajudante-de-ordens do governador Bernardo Lorena, o
artista se vingou esculpindo uma estátua de são Jorge com a cara
"bestificada" de seu desafeto. A
doença dividiu em duas fases nítidas a obra do Aleijadinho. A fase
sã, de Ouro Preto, se caracteriza pela serenidade equilibrada. Na
fase do enfermo, surge um sentimento mais gótico e expressionista. O
ressentimento tomou a expressão de revolta social contra a
exploração da metrópole. As figuras de "brancos",
"senhores" e "capitães romanos" são
deformadas. Suas
obras mais famosas são o conjunto do Santuário de Bom Jesus de
Matozinhos, em Congonhas do Campo, um patrimônio histórico e
artístico com 66 imagens esculpidas em madeira de cedro (1796-1799)
e os 12 majestosos profetas em pedra-sabão (1800-1805). Suas
esculturas desviam-se do estilo barroco português, ganhando
características muito pessoais, com alguma influência bizantina e
gótica. Os
trabalhos do Aleijadinho podem ser vistos em Ouro Preto, Congonhas do
Campo, Sabará e outras cidades mineiras. Observando-se os traços,
as expressões das esculturas, é impossível evitar o sentimento de
emoção e respeito que elas despertam. O esplendor e o requinte, as
sutilezas e a suntuosidade das dezenas de estátuas, pias batismais,
púlpitos, brasões, portais, fontes e crucifixos revelam que o
Brasil teve um escultor e arquiteto de primeira grandeza nos tempos
coloniais.
Principais obras de Aleijadinho: Talha
- Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco em São João del-Rei - Retábulo da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto - Retábulo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto Arquitetura- Projetos de fachadas de duas igrejas (Igreja de São Francisco em São João del-Rei e Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto). Escultura- Conjunto de esculturas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (incluíndo as mais conhecidas: "Os Doze Profetas").
Ouro
Preto
Ouro
branco! Ouro preto! Ouro podre! De cada Ribeirão trepidante e de
cada recosto De montanha o metal rolou na cascalhada Para o
fausto Del-Rei, para a gloria do imposto.
Que resta do
esplendor de outrora? Quase nada: Pedras... Templos que são
fantasmas ao sol-posto. Esta agencia postal era a Casa de
Entrada... Este escombro foi um solar... Cinza e desgosto!
O
bandeirante decaiu – é funcionário. Ultimo sabedor da crônica
estupenda, Chico Diogo escarnece o ultimo visionário.
E
avulta apenas, quando a noite de mansinho Vem, na pedra-sabão,
lavrada como renda, - Sombra descomunal, a mão do Aleijadinho!