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A Carta de Pero Vaz de Caminha / Descobrimento do Brasil
por
Cândido Portinari (Acervo Banco Central do Brasil)
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No dia 22 de abril de 1500, a esquadra de Pedro Alvares
Cabral chegava ao Brasil. Essa história foi relatada em primeira mão por Pero
Vaz de Caminha, em carta ao Rei de Portugal. Essa carta conhecida como “Carta de Pero Vaz de Caminha” é também
conhecida como “Carta a el- Rei Dom
Manoel sobre o achamento do Brasil”, é um documento no qual Pero Vaz de
Caminha, escrivão de Pedro Alvares Cabral (descobridor do Brasil) registrou
suas primeiras impressões sobre a terra descoberta.
É considerado o primeiro documento escrito da História do
Brasil. Assim, é considero o “marco zero” ou o pontapé inicial para a
construção da história Brasileira após o descobrimento. O termo “descobrimento”
é muito questionado hoje em dia, pois quando usado nos faz esquecer que estas
terras já eram habitadas por índios.
Vaz de Caminha era escrivão da frota de Pedro Alvares
Cabral, e redigiu essa carta para Dom Manoel I, conhecido também como “O
Venturoso” ou “Bem Aventurado”, para comunicar-lhe o descobrimento das novas
terras.
A Carta é datada em 1° de maio de 1500; a cidade onde
estavam era Porto Seguro, e foi levada para Lisboa por Gaspar de Lemos, um
grande navegador desse período.
Tal carta manteve-se conservada inédita por mais de dois
séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Esse Arquivo está localizado em
Lisboa, e existe no Estado português desde a Idade Média possuindo mais de 600
anos; é uma das instituições mais antigas de Portugal e uma das únicas ativas
até hoje. Foi descoberta no século XVIII por José de Seabra da Silva, mais
precisamente em 1773. Foi noticiada pelo historiador espanhol Juan Bautista
Munoz, e publicada pela primeira vez no Brasil pelo Padre Manuel Aires de
Casal, um português, que além de padre desempenhava a função de geógrafo e
historiador, e viveu no Brasil durante muito anos. Tal publicação ocorreu em
sua obra denominada como “Corografia Brasilica” de 1817.
A carta é o exemplo típico do deslumbramento dos Europeus
para com o novo. No caso o “Novo Mundo” como eram chamadas as Américas. Caminha
documenta algumas características físicas da terra encontrada e o momento em
que enxergaram um monte, denominado logo depois por Pedro Alvares Cabral como
“Monte Pascoal”. Logo após, ele narra o desembarque dos Portugueses na praia, o
primeiro contato com os índios e a primeira missa realizada na terra
descoberta.
Em 2005 este documento foi inscrito no Programa Memória do
Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura
(UNESCO).
A CARTA
" Senhor: Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros
capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova,
que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta
a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e
falar — o saiba pior que todos fazer... E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até
que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, estando da
dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns
sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os
mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E
quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais
baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o
capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz... Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete
ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro... Eram
pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas... Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos
os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o
Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E
tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos
dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali
havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que
lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham
todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os
arcos. E eles os pousaram... Um deles trazia um arco e seis ou sete setas; e na praia
andavam muitos com seus arcos e setas; mas de nada lhes serviram. Trouxe-os
logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e
festa. A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de
bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem
estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência
como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos
neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da
grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela
parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é
feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem
os estorva no falar, no comer ou no beber..."
Muito interessante a descrição que ele faz dos indígenas. Pacíficos, inocentes e lindos !! Que pena que foram dispersados, enganados e arrancados de suas terras. Obrigada por compartilhar !
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