ETERNA (Saudade)
Intérmino que fosse o Caminho da Vida
E eterno o caminhar do nosso passo incerto,
Fosse na estrada larga ou fosse no deserto,
Sem lar, sem pão, sem paz, sem sol e sem guarida;
Intérmina que fosse a estrada percorrida.
Sob o Céu todo azul ou de nuvens coberto
E, o repouso fatal nunca estivesse perto
E a distancia final nunca fosse vencida;
E vencendo ao caminho as urzes e os escolhos,
As lutas, o pavor, o cansaço do dia,
A fraqueza do passo, a tristeza dos olhos;
Meu pobre coração nessa eterna ansiedade,
Nesse eterno sofrer, eterno arrastaria
Esta triste, esta longa, esta eterna Saudade.
Biografia -
Mário Veloso Paranhos Pederneiras (Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1868 - Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1915). Filho de Manuel Veloso Paranhos Pederneiras e de Isabel França e Leite, e irmão de Oscar Pederneiras,
Mário Pederneiras foi um carioca que com suas poesias encantou a muitos. Em suas obras se torna claro seu jeito único de escrever e a forma como mostrava ao mundo o que pensava. Estreia na imprensa por volta de 1878, quando colabora como o jornal estudantil
O Imparcial, do Grêmio Literário Artur de Oliveira, no Rio de Janeiro RJ. Colabora ainda com a Gazeta de Notícias,
Sans Dessous,
O Tagarela e
Novidades. Cursa o primeiro e o segundo ano da Faculdade de Direito, em 1888 e 1889, em São Paulo SP, mas não chega a conclui-la. Em 1900 publica
Agonia, seu primeiro livro de poesia. Na década de 1910, trabalha na elaboração em prosa da revista teatral inédita Dona Bernarda e da comédia inédita O Dr. Mendes Camacho. Conquista o terceiro lugar no concurso para Príncipe dos Poetas Brasileiros, em 1913, no Rio de Janeiro. Sua obra poética inclui os livros
Rondas Noturnas (1901),
Histórias do meu Casal, 1904/1906 (1906) e
Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida (1912), de estética simbolista. Segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919 - 1992),
"um poeta houve entre os nossos simbolistas que se tornou, com o tempo, o cantor das alegrias da vida doméstica e também das tristezas que a assaltam: esse poeta do lar, da saudade da filha morta, da gratidão à esposa, das coisas humildes como as árvores da rua, a mangueira do quintal, o passeio público, etc., foi Mário Pederneiras".
Principais poemas
⦁ 1900 - ⦁ Agonias
⦁ 1901 - ⦁ Rondas Noturnas
⦁ 1906 - ⦁ Histórias do meu Casal
⦁ 1912 - ⦁ Ao Léu do Sonho e à Mercê da Vida
Mais poemas:
Mar
Oh! Mar! Meu velho Mar! que aos pés desta Cidade
As torturas do Amor inconstante padeces...
Sob a paz deste Céu isolado pareces
O caminho que leva à mansão da Saudade.
Lutas contra este Amor, a quem manso ofereces,
Num suplício servil, toda a tua humildade...
Ruges a tua dor... mas desfeito em bondade
Sobre a esteira da praia, em soluço, embranqueces.
Tens um'Alma infeliz que estranha mágoa encerra,
E se às vezes raivoso os teus ódios revelas,
E de tanto sofrer a repulsa da Terra.
Para ver como és bom, basta o enlevo em que rondas
O solene vagar ondulado das velas,
Na cadência orquestral do balanço das ondas.
Dor suprema
Que esta Suprema Dor que minh'Alma envelhece,
Que tanto me acabrunha e tanto desalenta,
Que repele a Ilusão, como o Sonho afugenta,
Que não cede ao Clamor, como não cede à Prece;
Que esta Suprema Dor que me prende e acorrenta
A mágoa de esperar o que nunca aparece,
Que se entranha na Vida e se alarga e que cresce
E de encontro à Alegria, em lágrimas, rebenta;
Seja o meu calmo abrigo, o meu sereno asilo,
Onde minh'Alma vá, toda branca e alquebrada,
Pedir o Pouso e a Paz para um viver tranquilo.
E que exsurja da Treva em que agora ando imerso
Para eterna viver aqui — marmorizada —
Na tristeza imortal da Lágrima e do Verso.
Trecho final
Meia-tinta de cor dos ocasos do Outono,
Sonho que uma ilusão sobre a vida nos tece
E perfume sutil de uma folha de trevo,
São, decerto, a feição deste livro que escrevo
Neste ambiente de silêncio e sono
Nesta indolência de quem convalesce.
Meu livro é um jardim na doçura do Outono
E que a sombra amacia
De carinho e de afago
Da luz serena do final do dia;
E um velho jardim dolente e triste
Com um velho local de silêncio e de sono
Já sem a luz de verão que o doire e tisne,
Mas onde ainda existe
O orgulho de um Cisne
E a água triste de um Lago.
Fontes de referências: Enciclopédia Itaú Cultural; Wikipédia; Manual de Literatura Brasileira (Editora Rideel)