O LIVRO

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terça-feira, 22 de abril de 2014

Nossa Literatura - Poema: Canção do Exílio - Gonçalves Dias

O CANTO DO SABIÁ LARANJEIRA

Sabiá-Laranjeira

O CANTO DO SABIÁ LARANJEIRA - O sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) é uma ave comum na América do Sul e o mais conhecido de todos os sabiás, identificado pela cor de ferrugem do ventre e por seu canto melodioso durante o período reprodutivo.


Canção do Exílio

                 Gonçalves Dias
obra de TARSILA DO AMARAL



 "Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."


Gonçalves Dias
Antônio Gonçalves Dias (Caxias, 10 de agosto de 1823 — Guimarães , 3 de novembro de 1864) foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Nossa História - "Você sabia que....?" - MARCO NA HISTÓRIA - 7 de Abril de 1831




D.Pedro I entregando o ato de renúncia ao Major Frias
 

No dia 7 de Abril de 1831, após a NOITE DAS GARRAFADAS ocorrida em 13 de março, e críticas a seu autoritarismo, dom Pedro I abdica do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro de Alcântara D.Pedro II, que tinha apenas 5 anos de idade. O ato marcou o fim do Primeiro Reinado e o início do período regencial, no Brasil, e uma série de disputas em Portugal e oferecimentos dos tronos da Grécia e de Espanha, na Europa.

 


Reprodução da Carta de Abdicação
 
"Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que tenho muito voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e prezado filho, o Senhor D. Pedro de Alcântara.

 Boa Vista, 7 de abril de mil oitocentos e trinta e um, décimo da Independência e do Império."
Pedro

 

 

Pedro



Nossa História - IMAGEM - Planta da Cidade de Salvador - Contemporânea da Invasão dos Holandeses

 
 
 
 
 
 
 
Invasão da Bahia (1624-1625)
 
 

Nossa História - LIVRO "História do Brasil" Frei Vicente do Salvador (um fragmento)

O livro "HISTÓRIA DO BRASIL'' de Frei Vicente do Salvador, considerado o primeiro historiador brasileiro é uma obra  dividida em cinco livros, a qual narra o modus vivendi na Colônia, narrando episódios conhecidos de seus primeiros governadores, bem como anedotas, o jeito de falar e de viver nas terras ainda tão novas.
A seguir, um fragmento de sua narrativa do Livro Primeiro, capítulo quarto, sobre o clima do Brasil:

"Do clima e temperamento do Brasil

       Opinião foi de Aristóteles, e de outros filósofos antigos de que a zona tórrida* era inabitável porque como o sol passa por ela cada ano duas vezes para os trópicos, parecia-lhes, que com tanto calor não poderia alguém viver, e confirmavam sua opinião, porque o sol aquenta com os seus raios uniformiter diformiter, mais ao perto que ao longe, e por essa causa no inverno aquenta pouco, porque anda distante, sed sic est, que na zona temperada onde nunca entra, só pelo acesso que faz no verão enfermam, e morrem os homens de calor, logo a fortiori em a zona tórrida donde nunca sai, há de ser mortífero.  

      Porém a experiência tem já mostrado, que a zona tórrida é habitável, e que em algumas partes dela vivem os homens com mais saúde, que em toda a zona temperada, principalmente no Brasil, onde nunca há peste, nem outras enfermidades comuns, senão bexigas de tempos em tempos, de que adoecem os negros, e os naturais da terra, e isto só uma vez, sem a segundar em os que já as tiveram, e se alguns adoecem de enfermidades particulares, é mais por suas desordens, que por malícia da terra. A razão disto é porque ainda que a terra do Brasil seja cálida por estar a maior dela na zona tórrida, contudo é juntamente muito úmida, como se prova do orvalhar tanto de noite, que nem depois de sair o sol a quatro horas se enxugam as ervas; e se alguém dorme ao sereno, se levanta pela manhã tão molhado dele como se lhe houvera chovido.

    Daqui vem também não poder o sal e o açúcar, por mais que o sequem, e resguardem, conservar-se sem umedecer-se, e o ferro e aço de uma espada ou navalha, por mais limpos, esacalado que sejam, se enche logo de ferrugem, e esta umidade é causa de que o calor desta terra se tempere, e faz este clima de boa complexão, outra é pelos ventos leste e nordeste, que ventam do mar todo o verão do meio-dia pouco mais ou menos, até a meia-noite, e lavam e refrescam toda a terra.

    A última causa é pela igualdade dos dias e das noites, porque (como dizem os filósofos) a extensão faz intenção; donde se um pusesse ou tivesse a mão devagar sobre um fogo fraco deestopas ou de palhas se queimaria mais, que se depressa a passasse por um fogo forte, e por isto em Portugal, posto que o calor é mais remisso se sente mais, porque dura mais, e são maiores os dias no verão, que as noites, mas no Brasil, ainda que mais intenso, dura menos, e não aquenta tanto que o frio da noite o não atalhe, que não chegue de um dia a outro. Donde se responde ao argumento de Aristóteles de que o sol aquenta mais na zona tórrida, que na temperada, intensiva, mas não extensiva, e que esta intenção de calor se modera com os ventos frescos do mar, e umidade da terra, junto com a frescura do arvoredo, de que toda está coberta; de tal sorte que os que a habitam vivem nela alegremente. O em que se verifica a opinião dos filósofos é nas coisas mortas, porque estando nas outras terras a carne três ou quatro dias sã, e incorrupta, e da mesma maneira o pescado, nesta não está 24 horas, que se não dane e corrompa."

Nota:  não foi feito nenhuma correção ortográfica no texto, sendo que ele foi mantido na sua forma original, respeitando assim a ortografia da época.

Notas: * O que é ZONA TÓRRIDA
A zona tórrida compreende a área da terra entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio. Geograficamente, a zona tórrida é definida por 23,5 graus de latitude norte e 23,5 graus de latitude sul. A zona tropical é outro nome dado à zona tórrida. Essa zona climática é uma das cinco zonas originais usadas ​​para definir o clima e as zonas de crescimento da terra. A delimitação desta zona já foi modificada para contribuir com a multiplicidade de diferentes biomas localizados dentro desta região tradicionalmente tropical
O termo zona tórrida foi usado pela primeira vez em torno de 320 a.C. pelo cientista grego Aristóteles para definir a área de terra mais próxima do equador. Aristóteles presumia que essa área fosse muito quente para a vida humana, já que os raios solares tangiam essa região diretamente de cima. Ele também sustentou a ideia de uma zona temperada, com um clima agradável e uma zona fria perto do Círculo Polar Ártico. De acordo com a enciclopédia Encarta, outro filósofo grego chamado Parmênides também dividiu estas zonas em cinco regiões distintas com a zona tórrida como a base a partir de 23 graus de latitude norte e sul. As zonas temperadas norte e sul foram adicionadas como as zonas frígidas norte e sul para criar um sistema climático de cinco zonas, sistema esse que permaneceu em uso até o sistema de mapeamento de clima padronizado de Koppen ser concebido e instituído nos séculos 19 e 20
Quando se pensa em trópicos, é muito comum a ideia de chuvas abundantes, plantas e árvores exuberantes e vida animal variada. A zona tórrida contém todos esses recursos e um evento importante que não ocorre nas outras zonas climáticas: o sol está diretamente acima pelo menos uma vez ao ano na zona tórrida. A temperatura nessas zonas tropicais é quente e úmida, sendo que a umidade está presente durante todo o ano. No entanto, a zona tórrida engloba uma variedade de características topográficas que afetam o clima. Considerando-se que muitos desertos e montanhas estão dentro das latitudes que definem a zona tórrida. As florestas tropicais são o que há de mais típico nesta zona, mas até montanhas cobertas de neve podem ser encontradas. A Cordilheira dos Andes, no Chile e na Argentina está dentro da zona tropical e contêm neve e tundra alpina. A Austrália e partes da África também estão na zona tórrida. Ambos os continentes têm grandes áreas de deserto com condições extremamente secas durante todo o ano. A zona tórrida contém áreas de chuvas abundantes e calor na superfície da Terra, Envolvendo a linha do Equador formam-se muitas nuvens que abastecem o clima da zona tórrida. De acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia, esta zona de convergência intertropical pode trazer tempestades diárias para a zona tórrida e controla seu clima. Os ventos alísios do norte se movendo em uma direção sudoeste convergem com os ventos do hemisfério sul, vindos da direção noroeste para formar esse aglomerado de nuvens.
as florestas tropicais são encontradas na zona tórrida da terra
Fontes Bibliográficas - História do Brasil, Livro Primeiro, Bahia dezembro de 1627, Frei Vicente do Salvador; Wikipédia

Nossa História - Frei Vicente do Salvador - O primeiro historiador brasileiro


 
Frei Vicente do Salvador,  nascido Vicente Rodrigues Palha (Matuim, Salvador, 1564 - Salvador, c.1637) foi um religioso franciscano, conhecido como  o pai da historiografia brasileira, ou o Heródoto brasileiro. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde graduou-se em 1587. Regressando á sua terra natal ingressou na Ordem Franciscana, quando adotou o nome de Vicente do Salvador. Desempenhou diversos cargos na sua Ordem e lecionou filosofia em Olinda (PE). Autor de uma "História do Brasil" de alto valor, publicada pela primeira vez pelo historiador, Capistrano de Abreu, em 1886-1887, no "Diário Oficial da Nação". As Edições Melhoramentos a vêm editando, sendo que a quinta tiragem apareceu por ocasião do 75.° aniversário da editora, em 1965, com o Prefácio de Capistrano de Abreu e Apresentação de Aureliano Leite.

Sobre Frei Vicente e sua obra, escreveu o antropólogo e escritor brasileiro Darcy Ribeiro Darcy Ribeiro (1922—1997), em seu livro O Povo Brasileiro:
''O melhor testemunho daqueles tempos se deve a frei Vicente do Salvador, natural da Bahia. Foi o primeiro intelectual assumido como inteligência do povo nascente, capaz de olhar nosso mundo e os mundos dos outros com olhos nossos, solidário com nossa gente, sem dúvidas sobre nossa identidade, e até com a ponta de orgulho que corresponde a uma consciência crítica.'' - Darcy Ribeiro, livro O Povo Brasileiro, pág. 136.


 
Fontes Bibliográficas: História do Brasil, frei Vicente do Salvador; Wikipédia; Nôvo Dicionário de História do Brasil, Editora Melhoramentos, 1971, acervo pessoal.

 
 
 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nossa História - Nossa Literatura: JOSÉ DE ANCHIETA - O Apóstolo do Brasil

Pe. José de Anchieta
A história do Brasil dos primeiros tempos está, inegavelmente, muito ligada aos missionários, entre os quais, Pe. José de Anchieta.  Espanhol, nascido em Tenerife, nas Ilhas Canárias em 19 de março de 1534.  Entrou na Companhia de Jesus em 1551 e enviado para o Brasil em 1553. Tinha sérios problemas de saúde,  sobretudo na coluna, que o fazia levemente corcunda e o impedia de cavalgar nas intermináveis peregrinações pelas terras brasileiras. Contudo, esses sofrimentos não o desanimaram em sua missão.
Anchieta, mais que outros, marcou os aspectos religiosos, literários e políticos do início do Brasil. Ajudou a fundar o colégio de Piratininga, embrião da cidade de São Paulo, e a casa de misericórdia em Niterói. Iniciou aldeamentos que se tornaram cidades, como a atual Anchieta, Guarapari e São Mateus, no Espírito Santo. Foi professor, catequizador, pacificador dos índios, estudou e aprendeu em poucos meses a língua tupi, organizando a gramática e um dicionário; foi mestre em várias artes e profissões ensinadas aos índios.
Teve um papel fundamental na pacificação dos tamoios, dos quais ficou prisioneiro voluntário por uma longa temporada, durante a qual escreveu o famoso poema a Nossa Senhora, redigido primeiramente nas areias de Itanhaém, em São Paulo. Incentivava os portugueses a tratarem os índios não como conquistados e escravos, mas a integrá-los, incentivando até os casamentos entre os dois povos. Sua área de trabalho se estendia de Pernambuco até São Paulo. Seus últimos anos transcorreram em Vila Velha, ES, onde faleceu em 1597, com 63 anos.

Se, como personagem do seu tempo pode ter tido algumas ações discutíveis numa mentalidade moderna, não se pode negar que José de Anchieta era de uma santidade heroica que se revelava através de suas cartas e de seus atos. Em primeiro lugar, o amor aos índios, num tempo em que nas universidades europeias se discutia se índios e negros teriam uma alma. Ele os tratava como irmãos em Cristo, com todas as conseqüências que essa definição podia trazer concretamente; defendia-os dos vexames dos conquistadores, curava os doentes, criou escolas para órfãos, merecendo, pela sua ação pastoral e social, o título de "Apóstolos dos Índios" e exemplo celebrado de educador.


Sua espiritualidade revela uma alma pura e simples, totalmente devotada ao amor ao próximo, embasado no amor a Cristo. Escrevia, ainda seminarista, durante sua viagem para o Brasil: "Senhor, que meu coração seja grande de zelo missionário. Grande, tais como estas vagas revoltas que balançam o nosso barco". Demonstrava claramente seu amor aos índios e aos irmãos menos afortunados, colocando-se a serviço deles. Hoje, diríamos que favoreceu a promoção humana. Toda a sua odisseia de missionário, de sofredor e pacificador, encontra-se em versos entremeados aos louvores à Virgem Maria, compostos quando prisioneiro voluntário entre os tamoios e correndo sérios perigos.
Monumento localizado na Biquinha em São Vicente, São Paulo
Anchieta escreve seus versos na areia

"Eis os versos que outrora, ó Mãe Santíssima,

te prometi em voto,
vendo-me cercado de feros inimigos.

Enquanto a minha presença
amansava os Tamoios conjurados
e eu os levava com jeito à suspirada paz,
tua graça me acolheu
em teu materno colo, 
e teu poder me protegeu intactos, corpo e alma.

À inspiração do céu, 
eu, muitas vezes desejei penar,
cruelmente expirar em duros ferros.

Mas sofreram merecida repulsa os meus desejos
só a heróis compete tanta glória".

Qualquer que tenha sido seu objetivo, foi um exemplo significativo, no século XVI, da realização de uma expressão literária que correspondesse às novas condições do homem na paisagem americana. Considerem-se, ainda, a sua poesia de inspiração religiosa e a poesia misto de exaltação da terra e de louvor da obra colonizadora do português como exemplificam os dois poemas escritos em latim, um sobre a Virgem Maria, outro sobre a ação do governador Mem de Sá.
Pateo do Collegio preserva história da fundação de São Paulo



No dia 25 de janeiro de 1554, o padre José de Anchieta realizou a primeira missa na vila de São Paulo de Piratininga, como era conhecida a atual capital paulista. A cerimônia aconteceu no Pateo do Collegio, que inicialmente não passava de uma cabana onde moravam 13 jesuítas
Existente desde 1553, a Biquinha de Anchieta foi uma das principais fontes de água da população de São Vicente durante séculos. Seus belos azulejos azuis trabalhados a mão são relíquias históricas. Lá, o famoso padre jesuíta bebia água e catequizava índios. Além da bica, a praça conta com uma estátua em tamanho natural do padre, feita em fibra de vidro, e boxes onde são vendidos os mais tradicionais doces da Cidade.



 Assista o filme ANCHIETA, JOSÉ DO BRASIL