O LIVRO

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Nossa Literatura - CASTRO ALVES - O Poeta dos Escravos



Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro. O último grande poeta da terceira geração romântica no Brasil. Expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do realismo. Foi também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve a beleza e a sedução do corpo da mulher. É patrono da cadeira nº7 da Academia Brasileira de Letras.
Castro Alves (1847-1871) nasceu na fazenda Cabaceiras, antiga freguesia de Muritiba, perto da vila de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia, em 14 de março de 1847. Filho do médico Antônio José Alves, e também professor da Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro.
No ano de 1853, vai com sua família morar em Salvador. Estudou no colégio de Abílio César Borges, onde foi colega de Rui Barbosa, Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perde sua mãe. Em 24 de janeiro de 1862 seu pai casa com Maria Rosário Guimarães e nesse mesmo ano foi morar no Recife. A capital pernambucana efervecia com os ideais abolicionistas e republicanos e Castro Alves recebe influências do líder estudantil Tobias Barreto.
Castro Alves publica em 1863, seu primeiro poema contra a escravidão "A Primavera", nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida estudantil e literária, mas volta para a Bahia no mesmo ano e só retorna ao Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.
Castro Alves inicia em 1866, um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves parte para o Rio de Janeiro onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Vai para São Paulo e ingressa no terceiro ano da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa fere o pé esquerdo, com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 volta para Salvador onde publica "Espumas Flutuantes".
Antônio Frederico de Castro Alves, morre em Salvador no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose.

Poesias de Castro Alves

A Canção do Africano
A Cachoeira de Paulo Afonso
Adormecida
Amar e Ser Amado
Amemos! Dama Negra
As Duas Flores
Espumas Flutuantes
Hinos do Equador
Minhas Saudades
O "Adeus" de Teresa
O Coração
O Laço de Fita
O Navio Negreiro
Ode ao Dois de Julho
Os Anjos da Meia Noite
Vozes da África

fonte: http://www.e-biografias.net/


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Literatura Portuguesa - OS LIVROS- Manuel Antônio Pina



"Os livros não servem apenas para serem lidos, ou apenas para serem lidos do modo mais usual da leitura. Servem também, por exemplo, para serem tidos. Tenho muitos livros que nunca li, e que provavelmente nunca lerei, como li outros que não tenho. Ter um livro na estante, ter a possibilidade de o ler, é talvez uma forma secreta de leitura. (...) talvez ao manusearmos e arrumamos um livro, ao mexer-lhe, passemos às vezes os olhos por uma página ou outra, uma hoje, outra no mês que vem, e pouco a pouco o leiamos assim, embora de modo não linear. (...) Isto é, um livro não tem necessariamente que ser lido para cumprir a sua função, basta-lhe poder ser lido, ser leitura em potencia."   Manuel Antônio Pina


Manuel Antônio Pina
Manuel Antônio Pina (Sabugal, 18 de novembro de 1943 — Porto, 19 de outubro de 20121 ) foi um jornalista e escritor português, ganhou o Prêmio Camões 2011, o maior prêmio literário de língua portuguesa. Nascido na Guarda,  é jornalista e estreou-se na poesia em 1974 com o livro “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde”. Consensualmente reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa – ainda hoje assina crônicas diárias no Jornal de Notícias –, este autor publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças, mas só em 2003 se aventurou na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.”.
Se a sua obra de ficção é menos conhecida internacionalmente, a sua poesia está traduzida na generalidade das línguas europeias. O seu mais recente livro de poemas, intitulado “Os Livros” (Assírio & Alvim, 2003) venceu os prêmios de poesia da Associação Portuguesa de Escritores e a da Fundação Luís Miguel Nava.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Nossa Literatura - O JOGO - Rui Barbosa

Rui Barbosa
O  JOGO
De todas as desgraças que penetram no homem pela alma, e arruinam o caráter pela fortuna, a mais grave é, sem dúvida nenhuma, essa: o jogo na sua expressão mãe, o jogo na sua acepção usual, o jogo propriamente dito; em uma palavra, o jogo: os naipes, os dados, a mesa verde.
Permanente como as grandes endemias que devastam a humanidade, universal como o vício, furtivo como o crime, solapado no seu contágio como as invasões purulentas, corruptor de todos os estímulos morais como o álcool, êle zomba da decência, das leis e da polícia, abarca no domínio das suas emanações a sociedade inteira, nivela sob a sua deprimente igualdade todas as classes, mergulha na sua promiscuidade indiferente até os mais baixos volutabros do lixo social, alcança no requinte das suas seduções as alturas mais aristocráticas da inteligência, da riqueza, da autoridade: inutiliza gênios; degrada príncipes; emudece oradores; atira à luta política almas azedas pelo calástismo habitual das paradas infelizes, à família corações degenerados pelo contacto cotidiano de todas as impurezas, à concorrência do trabalho diurno os náufragos das noites tempestuosas do azar; e não raro a violência das indignações furiosas, que vêm estuar no recinto dos parlamentos, é apenas a ressaca das agitações e dos destroços das longas madrugadas do cassino.
Quantos destinos não se contam por ai dominados exclusivamente na sua irremediável esterilidade pela ação desse fadário maligno! Quantas vidas, que a natureza dotara de prendas excelentes para a felicidade própria e o bem dos seus semelhantes, no descontentamento, na revolta, na inveja, na malevolência habitual! Quantos fenômenos inexplicáveis de reação, de cólera, de ódio ao que existe, de despeito contra o que dura, de guerra ao que se eleva, de irreconciliabilidade com o que não se abaixa, não tem a sua origem nos contratempos e amarguras dessas existências aberradas, que, sacudidas continuadamente pelas emoções do inesperado, se alimentam das suas surpresas, se estiolam com as suas decepções, e, vendo a felicidade repartir-se às cegas pela superfície do tabuleiro verde, acabam por supor que a sorte de todos, neste mundo, se distribui com a mesma casualidade, com a mesma desproporção, com a mesma injustiça, acabam por ver no merecimento, no esforço, na economia, na perseverança, coisas fictícias, estranhas ou hostis, acabam por confundir o sudário divino dos mártires do trabalho, com a pobreza exprobratória em que a ociosidade amortalha os desclassificados de todas as profissões!
Esse mal, que muitas vezes não se separa do lupanar senão pelo tabique divisório entre a sala e a alcova; essa fatalidade, que rouba ao estudo tantos caracteres, ao dever doméstico tantas virtudes, à pátria tantos heroísmos, reina, sob a sua manifestação completa, em esconderijos, onde a palavra se abastarda no salão, onde a personalidade humana se despe do seu pudor, onde a embriaguez da cobiça delira cínica e obscena, onde os maridos blasfemam pragas improferíveis contra a sua honra conjugai, onde, em comunhão odiosa, se contraem amizades inverossímeis, onde o menos que se gasta é o equilíbrio da alma, o menos que se arruina é o ideal, o menos que se dissipa é o tempo, estofo precioso de todas as obras-primas, de todas as utilidades sólidas, de todas as ações grandes.
Inumerável é o número de criaturas, que a tentação, o exemplo, o instinto, o hábito, o acaso, a miséria, levam a passar por esses latíbulos, cuja clientela vai periodicamente fazer-se apodrecer ali, por gozo, por necessidade, por avidez, e na corrupção de cujos mistérios cada iniciado se afaz a ir deixando ficar aos poucos a energia, a fé, o juízo, a nobreza, a honra, a temperança, a caridade, a flor de todos os afetos, cujo perfume embalsama e preserva o caráter.
Aqueles, que, por uma reação do horror no fundo da consciência, logram salvar-se em tempo desses tremendais, poderiam escrever a história da natureza humana vista sob aspectos inomináveis. Outros, porém, presas da vasa, que nunca mais os larga, rolam, e imergem nela de decadência em decadência, cada vez mais saturados, cada vez mais infelizes, cada vez mais afundados no infortúnio, até que a piedade infinita do termo de todas as coisas lhes recolha ao seio do eterno esquecimento, os  restos inúteis de um destino sem epitáfio.
Eis o jogo, o putrefador. Diátese cancerosa das raças anemizadas pela sensualidade e pela preguiça, êle entorpece, caleja e desviriliza os povos, nas fibras de cujo organismo insinuou o seu germe proliferante e inextirpável.
Os desvarios do encilhamento vão e passam como rápidos temporais. São irregularidades violentas das épocas de prosperidade e esperança. Só o jogo não conhece remitências: com a mesma continuidade com que devora as noites do homem ocupado e os dias do ocioso, os milhões do opulento e as migalhas do operário, tripudia uniformemente sobre as sociedades nas quadras de fecundidade e de penúria, de abastança e de fome, de alegria e de luto. É a lepra do vivo e o verme do cadáver.
Se o Tácito do encilhamento, o historiador implacável, o grande moralista, o reformador imaculado, o missionário de tantas regenerações, se acha puro, como eu lhe desejaria, de cumplicidade na propagação de tal flagelo, imploremos de S. Exa. que volte a sua palavra apostolar contra esta praga, cuja atualidade é perene, em vez de malbaratar esforços tão úteis contra um mal que acabou e não há receio de voltar. No caso contrário, aprenda, meditando o nosce te ipsum, a ser cometido, temperante e discreto.
                                            Coletânea Literária

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

NOSSA LITERATURA - Poema: Via Láctea - Olavo Bilac


Poema - Via Láctea
Olavo Bilac

 Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 - 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.


“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”