Manoel de Barros
Manoel
Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Ainda
novo, foi morar em Corumbá (MS) e mais tarde iria para o Rio de
Janeiro, para fazer a faculdade de Direito. Viajou pela Bolívia e
Peru, morou em Nova York, captou em cada um dos lugares por onde
passava um pouco da essência da liberdade, que aplicaria em suas
poesias.
Apesar
de ter publicado o primeiro livro em 1937, o “Poemas Concebidos Sem
Pecado”, o primeiro livro que escreveu acabou nas mãos de um
policial. O jovem Manoel fez a pichação “Viva o comunismo”, em
um monumento, e a polícia foi em busca do autor da ousadia. Para
defendê-lo, a dona da pensão em que vivia disse ao policial que o
“criminoso” em questão era autor de um livro. O policial pediu
para ver e levou o livro. Chamava-se “Nossa Senhora de Minha
Escuridão" e Manoel nunca o teve de volta.
Formou-se
em Direito, em 1941, na cidade do Rio de Janeiro. E já no ano
seguinte publicou “Face Imóvel” e em 1946, “Poesias”.
Na
década de 1960 foi para Campo Grande (MS) e lá passou a viver como
fazendeiro. Manoel consagrou-se como poeta nas décadas de 1980 e
1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos maiores
jornais do país.
Manoel
é normalmente classificado na Geração de 45 da literatura.
Trabalha bastante com a temática da natureza, mais especificamente,
o Pantanal. Mistura estilos e aborda o tema regional com
originalidade.
Outros
livros do autor são: ”Compêndio para Uso dos Pássaros”, de
1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria de
Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato
do Artista Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de
2001, entre outros.
Alguns
dos prêmios que o autor recebeu: “Prêmio Orlando Dantas”, em
1960, ”Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal”, em
1969. “Prêmio Nestlé”, em 1997 e o “Prêmio Cecília
Meireles” (literatura/poesia), em 1998.
Manoel
de Barros morreu no dia 13 de novembro de 2014.
Eu
tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um
menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que
faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo
de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do
vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de
peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era
lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido
e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
-livro Memórias
inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros, São Paulo: Planeta
do Brasil, 2010. p.
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