Antônio Valentim da Costa Magalhães nasceu no Rio de Janeiro, a 16 de janeiro de 1859. Filho homônimo de Antônio Valentim da Costa Magalhães e de
D. Maria Custódia Alves Meira. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de
São Francisco, em São Paulo, onde ingressara em 1877. Ali colabora para os
periódicos acadêmicos "Revista de Direito e Letras",
"Labarum" e "República", este último de Lúcio de Mendonça.
Ainda nesta cidade publicou três obras: "Idéias de Moço", "Grito
na Terra" e "General Osório", este último em parceria com Silva
Jardim, além de seu primeiro livro, intitulado "Cantos e Lutas". Ali
também casou-se, em 1880.
Voltando para o Rio, dedica-se ao jornalismo, dirigindo o
periódico "A Semana" (fundado em 1885), que torna-se o veículo dos
jovens escritores da época, além da propaganda abolicionista e republicana,
sendo um período de marcadas agitações culturais e políticas, estando Valentim
Magalhães no proscênio dessas lutas todas. Sobre sua participação, registrou
Euclides da Cunha, que o sucedeu na Academia: "A geração de que ele foi a
figura mais representativa, devia ser o que foi: fecunda, inquieta,
brilhantemente anárquica, tonteando no desequilíbrio de um progresso mental
precipitado a destoar de um estado emocional que não poderia mudar com a mesma
rapidez".
Seu grande envolvimento com as causas que defendia não lhe
permitiram uma maior produção literária, sendo comum entre os críticos que seu
papel foi o de divulgar os demais escritores nacionais.
Ficou célebre pelas inúmeras polêmicas criadas, que
redundaram em ataques e desafetos, bem como pelas defesas que dele faziam os
amigos.
Durante o Encilhamento, falsa prosperidade econômica que se
seguiu à Proclamação da República por obra do seu confrade Rui Barbosa, então
feito Ministro das Finanças, Valentim dedicou-se ao lucro rápido, fundando uma
companhia e, logo mais, como todos, vindo à falência.
Sobre seu papel na memória futura, então ainda presenciando
os reveses, declarou:
"A princípio fui gênio; mais tarde cousa nenhuma. Hoje
César, amanhã João Fernandes…"
Registra Manuel Bandeira que o autor
participara, ao lado de Teófilo Dias, Artur Azevedo, Fontoura Xavier e outros,
da chamada "Batalha do Parnaso", uma reação ao romantismo, iniciada
ainda na década de 1860, e que ganhou força com a agitação promovida por Artur
de Oliveira. Este misto de boêmio e intelectual conhecera em
Paris os intelectuais parnasianos, e influenciara os autores brasileiros.
Faleceu em 17 de maio de 1903. Deixou: Cantos e Lutas e Rimário.
ÍNTIMO
Esta alegria loura, corajosa,
Que é como um grande escudo, de ouro feito,
E faz que à Vida a escada pedregosa
Eu suba sem pavor, calmo e direito,
Me vem da tua boca perfumosa,
Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:
Constelando-o de beijos côr de rosa,
Ungindo-o de um sorriso satisfeito…
A imaculada pomba da Ventura
Espreita-nos, o verde olhar abrindo,
Aninhada em teu cêsto de costura;
Trina um canário na gaiola, inquieto;
A cambraia sutil feres, sorrindo,
E eu, sorrindo, desenho êste sonêto.
TORTURA
Ante a mesquita d´áureos minaretes
açoitam dois telingas a traidora:
as vergastas, sutis como floretes,
sibilam sobre a carne tentadora.
À vibração das varas, estremecem
seus níveos membros firmes, delicados,
e, nos espasmos do sofrer, parecem
das contorções do gozo eletrizados.
Geme aos golpes, que as carnes lhe retalham,
e aberta a rósea boca, os olhos belos
pérolas vertem, que seu peito orvalham;
dobram-se as curvas, soltam-se os cabelos,
e do alvo colo, amargurado e exangue,
— como esparsos rubis — goteja o sangue
Rimario
1878-1899
Paris: Ailhaud & Cia, 1900. 248 p
(foi mantido a
ortografia original dos poemas)
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