O LIVRO

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

ELES VISITARAM O BRASIL - 100 anos da viagem de Theodoro Roosevelt ao Pantanal e Amazônia

Theodoro Roosevelt no Pantanal
Há cem anos, o (ex)presidente americano Theodoro Roosevelt (1858-1919) viveu uma das maiores aventuras de sua vida: mapear um rio desconhecido na porção mais isolada da Amazônia. Conhecido também como Teddy, Roosevelt foi um dos mais importantes estadistas norte-americanos e tem o seu rosto esculpido no Monte Rushmore, no­­s EUA, ao lado de outros três presidentes, George Washington, Thomas Jefferson e Abranham Lincoln. Foram as belezas naturais das selvas sul-americanas que o trouxeram ao Pantanal, em 1913.

A viagem foi planejada pelo general Cândido Mariano Rondon (1865-1958), o militar brasileiro mentor da política indigenista nacional e que na época coordenava a construção das Linhas Telegráficas da Amazônia ou CLTEMTA (1907-1915).

Theodoro Roosevelt e Cândido Mariano Rondon


As aventuras de Roosevelt e Rondon pelo Brasil tornaram-se livros, documentários e muitas teses acadêmicas.  O que poucos sabem é que Roosevelt começou a sua viagem navegando primeiro por todo o Pantanal, partindo de Buenos Aires, o grupo atingiu o rio Paraguai (principal formador do Pantanal) em Corrientes, na Argentina -  a cidade onde começou a Guerra do Paraguai (1864-1870)
Foram meses viajando pelo Pantanal, fazendo desvios para caçar, coletar material científico e conhecer as belezas da região, pelos rios Taquari, Cuiabá, São Lourenço e Sepotuba, afluentes do rio Paraguai. Foi na cidade de Cáceres,  no Mato Grosso,  que finalmente a Expedição partiu em direção ao mapeamento do Rio da Dúvida, renomeado depois como Rio Roosevelt.
Rio da Dúvida
A viagem de Roosevelt ao Brasil foi literalmente uma jornada para o desconhecido. A rota foi planejada por Rondon, que exigiu do presidente brasileiro Hermes da Fonseca (1910-1914), que o grupo não fizesse apenas um passeio na Amazônia, mas sim umaincursão científica na floresta.
Batizada como Expedição Científica Rondon-Roosevelt, a viagem durou quatro meses,  começou em 12 dezembro de 1913 e terminou no dia 26 de abril de 1914, partindo da Argentina, com 25 homens entre carregadores, mateiros, cientistas, e homens de confiança do Marechal Rondon e de Theodoro Roosevelt.  Quatro mortes, desertores,  ataques de índios e vários acidentes tornaram esta uma das últimas grandes aventuras de exploração do século XX. Apenas 13 homens retornaram da viagem com vida, Roosevelt terminou a aventura doente, abatido e carregado pelos companheiros.  O mapeamento do rio da Dúvida foi concluído em abril de 1914.


Tanto o general brasileiro, quanto o ex-presidente americano registraram sua versão sobre a aventura em livros. A mais famosa destas obras é “Nas Selvas do Brasil”, de autoria de Roosevelt (Belo Horizonte, Itatiaia 1976), em inglês THROUGH THE BRAZILIAN WILDERNESS (New York, Da Capo Paperback, 1914. 

Através dos rios do Pantanal, o grupo viveu a parte mais agradável da viagem. “Os longos dias em que atravessamos a cavalo os pantanais foram agradáveis e interessantes. Várias vezes avistamos o tamanduá bandeira, o gigante comedor de formigas. Kermit (filho de Roosevelt), matou um porque os naturalistas estavam desejosos por outro exemplar, depois não precisamos mais de molestar aquelas estranhas e antiquadas criaturas.”, descreveu o  ex-presidente americano.

Rota da Expedição Rondon-Roosevelt

Além de político, Roosevelt foi um dos pioneiros mundiais na criação de Parques Turísticos, nos EUA, e também um naturalista apaixonado. Durante a expedição realizou vários apontamentos sobre os animais que encontrou no Pantanal. Entre os peixes, as piranhas foram as que mais chamaram a sua atenção. “As bocas ferozes e violentas, fazem com que os dentes se enterrem na carne e nos ossos. A cabeça com seu focinho curto, olhos malignos sempre atentos e mandíbulas cruelmente armadas, a bater, eis a fisionomia de sua ferocidade demoníaca. E as ações do peixe estão perfeitamente de acordo com a sua aparência. Nunca testemunhei um exibição de fúria incontida e selvagem como a da piranha ao debater-se no tombadilho”, descreveu.
A atração de Roosevelt por esses peixes foi tanta que o Marechal Rondon chegou a relatar em seu livro de memórias que o americano tornou-se um viciado em caldo de piranha.

passagem de Roosevelt e Rondon pelo Pantanal rendeu inclusive algumas caçadas de onças-pintadas. Na época, a caça era legalizada e uma atividade comum na região. Roosevelt ficou impressionado com esse felino. “Uma bala de winchester – 405, de Kermit, nas cruzadas, fê-lo rodopiar morto, no chão. Era mais pesado do que o grande cougar macho, matador de cavalos, que abati no Colorado e cuja pele Hart Merrian reputou como sendo uma das maiores que já tinha visto, tendo quase o dobro do peso de qualquer dos leopardos africanos machos que já abatêramos. Seu volume se aproximava, ou era mesmo igual, ao das menores leoas adultas que matamos na África”.
Apesar de caçar para realizar coletas científicas para os Museus de
História Natural dos EUA e do Rio de Janeiro, Roosevelt dedicou muitas páginas do seu livro para fazer um apelo pela conservação das regiões que visitou. Ele temia que o Brasil seguisse o mesmo exemplo dos EUA e da Europa que há cem anos já estavam destruindo grande parte de suas áreas naturais. “Em outras partes, o homem civilizado tem sido mesmo mais destruidor da magnífica vida mamífera das selvas do que seus irmãos selvagens (os índios). Durante séculos ele tem destruído as mais perfeitas formas de animais da Europa, Ásia, e África do Norte, mesmo em nossos dias, tem repetido essa prática em grande escala em outras partes da África e da América do Norte (…). Há razão de sobra para que o bom povo da América do Sul desperte, como nós da América do Norte e da Europa, já bastante tarde começamos a fazê-lo, para o dever de preservar do empobrecimento e da extinção a vida selvagem, que é um patrimônio de grande interesse e valor, em nossas terras”.
No Pantanal de Cáceres, dentro da área de atuação do Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar com patrocínio da Petrobras, Roosevelt conseguiu encontrar o maior número de pássaros registrado pela expedição.  Além de fotografar jaburus (tuiuiús), biguatingas, tucanos entre outros, Roosevelt enxergou na região o seu incrível potencial para pesquisas científicas. “Para além de Cuiabá e Cáceres, pode-se viajar em lanchas durante muitos dias, exceto na época mais acentuada das secas (…). Ademais, é um verdadeiro paraíso para as aves aquáticas e muitas espécies de pássaros e de mamíferos. Trata-se de uma região perfeitamente ideal para um naturalista permanecer nela seis meses ou um ano”, pontuou Roosevelt ao se encantar pelo Pantanal.
Os relatos oficiais da expedição ao rio da Dúvida apontam que Roosevelt partiu de Cáceres, após passar pela Fazenda Descalvados, para a sua jornada para a Amazônia -  o percurso mais divulgado e registrado da viagem. Porém, sempre vale relembrar o quão importante foi o contato com os animais do Pantanal para esta grande expedição científica. Muitas das espécies coletadas ainda integram os acervos dos museus brasileiros e norte-americanos.


Fotos:
Acervo Histórico Museu do Índio e Família Roosevelt
Matéria exibida no site www.planetasustentavel.abril.com.br
Douglas Trent/Projeto Bichos do Pantanal - 

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