Theodoro Roosevelt no Pantanal |
Há
cem anos, o (ex)presidente americano Theodoro
Roosevelt (1858-1919)
viveu uma das maiores aventuras de sua vida: mapear um rio
desconhecido na porção mais isolada da Amazônia.
Conhecido também como Teddy, Roosevelt foi um dos mais importantes
estadistas norte-americanos e tem o seu rosto esculpido no Monte
Rushmore, nos EUA, ao lado de outros três presidentes,
George Washington, Thomas Jefferson e Abranham Lincoln. Foram as
belezas naturais das selvas sul-americanas que o trouxeram
ao Pantanal,
em 1913.
A
viagem foi planejada pelo general Cândido
Mariano Rondon (1865-1958),
o militar brasileiro mentor da política indigenista nacional e que
na época coordenava a construção das Linhas
Telegráficas da Amazônia ou CLTEMTA (1907-1915).
Theodoro Roosevelt e Cândido Mariano Rondon |
As aventuras
de Roosevelt e Rondon pelo Brasil tornaram-se livros, documentários
e muitas teses acadêmicas. O que poucos sabem é que Roosevelt
começou a sua viagem navegando primeiro por todo o Pantanal,
partindo de Buenos Aires, o grupo atingiu o rio
Paraguai (principal
formador do Pantanal) em Corrientes, na
Argentina - a cidade onde começou a Guerra
do Paraguai (1864-1870)
Foram meses
viajando pelo Pantanal, fazendo desvios para caçar, coletar material
científico e conhecer as belezas da região, pelos rios
Taquari, Cuiabá, São Lourenço e Sepotuba,
afluentes do rio
Paraguai. Foi
na cidade de Cáceres,
no Mato
Grosso,
que finalmente a Expedição partiu em direção ao mapeamento do Rio
da Dúvida,
renomeado depois como Rio
Roosevelt.
Rio da Dúvida |
A
viagem de Roosevelt ao Brasil foi literalmente uma jornada para o
desconhecido. A rota foi planejada por Rondon, que exigiu do
presidente brasileiro Hermes da Fonseca (1910-1914), que o grupo não
fizesse apenas um passeio na Amazônia, mas sim umaincursão
científica na floresta.
Batizada
como Expedição
Científica Rondon-Roosevelt,
a viagem durou quatro meses, começou em 12 dezembro de 1913 e
terminou no dia 26 de abril de 1914, partindo da Argentina, com 25
homens entre carregadores, mateiros, cientistas, e homens de
confiança do Marechal
Rondon e
de Theodoro
Roosevelt.
Quatro mortes, desertores, ataques de índios e vários
acidentes tornaram esta uma das últimas grandes aventuras de
exploração do século XX. Apenas 13 homens retornaram da viagem com
vida, Roosevelt terminou a aventura doente, abatido e carregado pelos
companheiros. O mapeamento do rio
da Dúvida foi
concluído em abril de 1914.
Tanto
o general brasileiro, quanto o ex-presidente americano registraram
sua versão sobre a aventura em livros. A mais famosa destas obras é
“Nas
Selvas do Brasil”,
de autoria de Roosevelt (Belo Horizonte, Itatiaia 1976), em inglês THROUGH THE BRAZILIAN WILDERNESS (New York, Da Capo Paperback, 1914.
Através
dos rios
do Pantanal,
o grupo viveu a parte mais agradável da viagem. “Os longos dias em
que atravessamos a cavalo os pantanais foram agradáveis e
interessantes. Várias vezes avistamos o tamanduá
bandeira,
o gigante comedor de formigas. Kermit (filho de Roosevelt), matou um
porque os naturalistas estavam desejosos por outro exemplar, depois
não precisamos mais de molestar aquelas estranhas e antiquadas
criaturas.”, descreveu o ex-presidente americano.
Rota da Expedição Rondon-Roosevelt |
Além
de político, Roosevelt foi um dos pioneiros mundiais na criação
de Parques
Turísticos,
nos EUA, e também um naturalista apaixonado. Durante a expedição
realizou vários apontamentos sobre os animais que encontrou
no Pantanal.
Entre os peixes, as piranhas foram
as que mais chamaram a sua atenção. “As bocas ferozes e
violentas, fazem com que os dentes se enterrem na carne e nos ossos.
A cabeça com seu focinho curto, olhos malignos sempre atentos e
mandíbulas cruelmente armadas, a bater, eis a fisionomia de sua
ferocidade demoníaca. E as ações do peixe estão perfeitamente de
acordo com a sua aparência. Nunca testemunhei um exibição de fúria
incontida e selvagem como a da piranha ao debater-se no tombadilho”,
descreveu.
A
atração de Roosevelt por esses peixes foi tanta que o Marechal
Rondon chegou
a relatar em seu livro de memórias que o americano tornou-se um
viciado em caldo
de piranha.
A passagem
de Roosevelt e Rondon pelo Pantanal rendeu
inclusive algumas caçadas de onças-pintadas. Na época, a caça era
legalizada e uma atividade comum na região. Roosevelt
ficou impressionado com esse felino. “Uma bala de
winchester – 405, de Kermit, nas cruzadas, fê-lo rodopiar morto,
no chão. Era mais pesado do que o grande cougar macho, matador de
cavalos, que abati no Colorado e cuja pele Hart Merrian reputou como
sendo uma das maiores que já tinha visto, tendo quase o dobro do
peso de qualquer dos leopardos africanos machos que já abatêramos.
Seu volume se aproximava, ou era mesmo igual, ao das menores leoas
adultas que matamos na África”.
Apesar
de caçar para realizar coletas científicas para os Museus
de
História
Natural dos EUA e do Rio de Janeiro, Roosevelt
dedicou muitas páginas do seu livro para fazer um apelo
pela conservação das
regiões que visitou. Ele temia que o Brasil seguisse o mesmo exemplo
dos EUA e da Europa que há cem anos já estavam destruindo grande
parte de suas áreas naturais. “Em outras partes, o homem
civilizado tem sido mesmo mais destruidor da magnífica vida mamífera
das selvas do que seus irmãos selvagens (os índios). Durante
séculos ele tem destruído as mais perfeitas formas de animais da
Europa, Ásia, e África do Norte, mesmo em nossos dias, tem repetido
essa prática em grande escala em outras partes da África e da
América do Norte (…). Há razão de sobra para que o bom povo da
América do Sul desperte, como nós da América do Norte e da Europa,
já bastante tarde começamos a fazê-lo, para o dever de preservar
do empobrecimento e da extinção
a vida selvagem,
que
é um patrimônio de grande interesse e valor, em nossas terras”.
No Pantanal
de Cáceres,
dentro da área de atuação do Projeto
Bichos do Pantanal,
realizado pelo Instituto Sustentar com patrocínio da Petrobras,
Roosevelt conseguiu encontrar o maior número de pássaros registrado
pela expedição. Além de fotografar jaburus (tuiuiús),
biguatingas, tucanos entre outros, Roosevelt enxergou na região o
seu incrível potencial para pesquisas
científicas.
“Para além de Cuiabá e Cáceres, pode-se viajar em lanchas
durante muitos dias, exceto na época mais acentuada das secas (…).
Ademais, é um verdadeiro paraíso
para as aves aquáticas e
muitas espécies de pássaros e de mamíferos. Trata-se de uma região
perfeitamente ideal para um naturalista permanecer
nela seis meses ou um ano”, pontuou Roosevelt ao se encantar
pelo Pantanal.
Os
relatos oficiais da expedição ao rio
da Dúvida apontam
que Roosevelt partiu de Cáceres,
após passar pela Fazenda Descalvados, para
a sua jornada para a Amazônia
-
o percurso mais divulgado e registrado da viagem. Porém, sempre vale
relembrar o quão importante foi o contato com os animais
do Pantanal para
esta grande expedição
científica. Muitas
das espécies coletadas ainda integram os acervos dos museus
brasileiros e norte-americanos.
Fotos:
Acervo
Histórico Museu do Índio e Família Roosevelt
Matéria
exibida no site www.planetasustentavel.abril.com.br
Douglas
Trent/Projeto
Bichos do Pantanal -
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