O LIVRO

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Nossa Literatura - A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM VERSOS NA " LITERATURA DE CORDEL"




 
Dos gêneros literários dos que mais aprecio é a Literatura de Cordel, para mim os autores de cordéis, os Cordelistas, são incrivelmente criativos, simplistas e conhecedores de fatos na composição dos versos. Sou a maior fã deste estilo. O difícil é encontrar os folhetos de cordéis fora do Nordeste, eu compro em uma banca da Praça da Sé, no centro de São Paulo. Mas o que é a Literatura de Cordel?

Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores. Para reunir os expoentes deste gênero literário típico do Brasil, foi fundada em 1988 a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.
fonte: Wikipedia

Aproveitando esta data de 15 de novembro, aí vãos os versos de autoria do cordelista José Rodrigues de Oliveira celebrando a Proclamação da República, assim ele se apresenta:

Sou poeta popular
já cantei versos na feira,
quero aqui me apresentar
na minha forma brejeira,
me chamo José Rodrigues,
sou Rodrigues de Oliveira.


PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
José Rodrigues de Oliveira

 Foi proclamada a república
Tomou conta um militar
A oposição forçou
A ele renunciar
Um outro que era vice
Pôde a coisa contornar

Dois presidentes fardados
Depois vem cinco civis
Derrotando Rui Barbosa
Sitiou como bem quis
Ao lado de Venceslau
Fez um governo infeliz.

Hermes Rodrigues da Fonseca
De Deodoro era primo
Em mil novecentos e dez
Seguro como um felino
Recebeu dos seus amigos
O Governo, seu destino.

Iniciou seu trabalho
Firmado na oligarquia
Pois a pressão militar
Mais condições dar-lhe-ia
Dos políticos seus amigos
Influências recebia.

Foi presidente eleito
Pois o povo lhe apoiou
Arranhou a magna carta
Porém não foi Ditador
Em Pernambuco interveio
Alagoas e Salvador.

Ao recolher as Tabocas
Da festa, da posse sua
Os marinheiros da esquadra
Mostrando a verdade nua
Fizeram motins pra ter
Direito de andar na rua.

Não foi isso ao pé da letra
Pé da letra sem rivais
Pretendiam os bons marujos
Sendo também bom(ns) rapaz(es)
Abolir o regimento
Os castigos corporais.

Na marinha se usava
Naqueles tempos de então
A palmatória, o chicote
O Rebengue, o Cinturão
Surgiu o tal João de Cândido
E com ele a abolição.

Deixe pra lá esse povo
Que já foi anistiado
Segue os passos do governo
Já não bem acompanhado
Quem brilha como cadente
É o Pinheiro Machado.

Não houve alteração
Na pasta de exterior
O Barão de Rio Branco
Mostrou bem seu valor
Por isto com o Marechal
No posto continuou.

No ministério da guerra
Dantas Barreto ficou
E Rivadavia Correia
Justiça e Interior
Pois sendo do Rio Grande
Ao conterrâneo empolgou.

Da sua terra natal
Que com Borges Medeiros
Recebia firme apoio
De todo bom brasileiro
Uso da oligarquia
Do tal Machado Pinheiro.

Mestre Armando deu razão
Ao colega Zé Maria
Que afirmou que a violência
Foi tida na primazia
O povo deu o apoio
Pra fugir da oligarquia.

O fato histórico é sagrado,
Julgá-lo a mim não compete
Usando a analogia
O Canudos se repete
Um tal de João Maria
No Paraná pinta o sete.

Santa Catarina briga
Com Paraná seu irmão
O contestado e o monge
Se instalou na região
Arrebanhou mais fanáticos
Formando uma legião.

Foi negócio pra valer
E o Marechal enfrentou
Porém a fé dos sequazes
Aos exércitos derrotou
Só no outro governo
A fogueira se apagou.

Setembrino de Carvalho
Com seis mil soldados ia
Espalhar no Contestado
Os adeptos de Maria
Que perdendo sua fé
Pra qualquer lado corria.

As finanças de governo
Já não é nem bom falar
Porque falta de dinheiro
Todos tão a reclamar
E aparecendo a crise
A coisa vai piorar.

Foi a crise da borracha
Que no norte se esboçou
Retração de capitais
Aí a crise aumentou
Pois para política instável
Não se obtém fiador.

Na décima primeira estrofe
O Rivadávia está lá
Que foi ministro de Hermes
E talvez para esnobar
No ensino fez reforma
Que podemos recordar.

Na escola superior
Tinha toda liberdade
Se podia ser doutor
Com muita facilidade
Pois com sessenta mil reis
Se escondia da verdade.

O famoso Doutor Sessenta
Itamar já nos falou
Não escrevia nem lia
Mas em fim era doutor
Tinha anel e canudo
Que com dinheiro comprou.

Foi o Marechal Hermes
O oitavo presidente
Podia ter sido o sétimo
Se o sexto não cai doente
Pois Dr. Nilo Peçanha
Sendo vice vai pra frente.

Gaúcho de boa cepa
Também fez revolução
Ajudou a seu parente
Fazer a proclamação
De Afonso foi ministro
Da guerra, com distinção.

Como presidente fez
Obras de saneamento
Duplicou a linha férrea
Trabalhou com bom intento
Mas o povo discordou
E acabou sem fundamento.

Quando deixou o governo
Foi eleito senador
O Rio Grande do Sul
Esta homenagem prestou
Mas o homem encabulado
O cargo renunciou.

Não falei do Padre Cícero
Por uma questão latente
Vivendo no Ceará
Ao lado de tanta gente
Casava e batizava
Dava saúde aos doentes.

O padre Cícero Romão
Ao governo deu trabalho
Porque sendo inteligente
Alguém lhe quebrava o galho
Sempre trazendo um trunfo
Quando traçava o batalho.

Pelos chefes da igreja
Ele foi excomungado
Talvez tenha sido inveja
Pelos milagres falados
E ainda bota pra traz
Muitos santos diplomados.

Eu podia dizer mais
E verdade disso eu sei
Não pretendo esnobar
Pois só fatos relatei
E mais em terra de cego
Quem tiver um olho é Rei.

fonte: http://www.cordel.01br.com/

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